quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Drama em Animação Polonesa

Algumas pessoas gostam de dizer que sua vida é um "livro aberto", expressão usada para afirmar que não tem nada a esconder. E se partíssemos do princípio que a vida é realmente um livro? Páginas e mais páginas contendo todos os fatos de nossa existência. Cada vida, cada indivíduo com o seu conjunto de folhas impressas, narrando de forma única todos os passos desde o nascimento até a morte.

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UNDO.  Animação polonesa traz a vida escrita num livro - Reprodução
Pois é esse o tema de Undo, animação polonesa em 3d. Este curta-metragem mostra um homem que, dentre milhares de livros de uma biblioteca, encontra o livro que possui a história de sua vida. Com o impresso em mãos, ele tenta mudar o seu trágico passado. Roterizado, dirigido e animado por Marcin Waśko, Undo impressiona pelo realismo. Seja nas expressões do personagem ou no cenário, tudo é tão real que, por vezes, nem parece uma animação. Os movimentos de câmera, a luz, a textura, tudo contribui para dar veracidade a este dramático filme polonês. Ganhador de diversos prêmios em festivais europeus, Undo pode ser assistido no reprodutor abaixo. Lembre-se: ao tratar de desfazer seu passado, muito cuidado com o livro de sua vida.
Y.H.

Undo

Ou baixe aqui Undo (arquivo mp4 - Fonte: Platige Shorts)

Sinopse
"Undo" é a história de um homem que encontra um livro. Este livro contém a história de sua própria vida. Ele tenta mudar isso, mas, alterando o livro, ele vai mudar a sua vida?

Gênero Animação
Diretor Marcin Waśko
Ano 2003
Duração 2'45''
Cor Colorido
País Polônia

Festivais e Premiações
Grand Prix no 3o Internacional DigiTechMedia Workshops (Polônia)
Vencedor em Animago 2003 Professional / Categoria Curta-metragem Animação (Alemanha)
Seleção no 3o Hull Festival Internacional de Curtas-Metragens (Inglaterra)
Seleção no Raindance Film Festival (Inglaterra)

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Análise de três Curtas do autor de Vinil Verde

Tremenda coincidência. Não faz uma semana que o OutroCine postou o curta Vinil Verde, de Kleber Mendonça Filho, e a revista eletrônica de cinema, Filmes Polvo, traz na sua edição 16, em texto de Gabriel Martins, uma interessante análise da obra de Mendonça Filho. Confira a seguir reprodução do artigo que está no mais recente número da Filmes Polvo.

A trilogia de Kleber Mendonça Filho
por Gabriel Martins


Algo de muito interessante tem acontecido no circuito de Festivais de Cinema do Brasil: vários diretores de curtas têm conseguido consolidar obras de caráter pessoal e, assim, mostrar seus estilos, independente de terem um longa-metragem no currículo ou não. Temos como exemplo Rafael Gomes (Tudo que é sólido pode derreter, Alice), Carlos Magno (Kalishnikov, Igreja Revolucionária dos Corações Amargurados), Esmir Filho (Ímpar Par, Alguma coisa assim), Eduardo Valente (Um Sol Alaranjado, Castanho, O Monstro), Kleber Mendonça Filho (Vinil Verde, Eletrodoméstica, Noite de Sexta, Manhã de Sábado), dentre vários outros. O que se percebe nesses trabalhos é uma grande vontade de dizer algo e imprimir características pessoais em suas obras, desde a poesia moderna de Rafael Gomes, passando pelo experimentalismo honesto de Carlos Magno, a pureza sentimental de Esmir Filho, o apuro visual e crítico de Eduardo Valente até a ironia pura de Kleber Mendonça Filho, diretor muito interessante e que analiso agora neste texto.

Kleber (que também é crítico) consegue tratar do contemporâneo sem soar repetitivo. É na ironia, também presente em suas críticas, que ele consegue tratar os nossos anseios e falta de comunicação, pensando as falhas humanas não só tematicamente, mas na própria forma do filme. Aí ele revela sua verdadeira posição: um experimentador de formas e sentidos cinematográficos. Seus três filmes possuem claras diferenças estéticas e narrativas, seja na direção como na montagem, o que revela uma grande vontade desse realizador de passear por diversas linguagens e formatos. Há algo de muito contemporâneo nisso.

Em Vinil Verde, as fotografias que compõem o filme (ele é uma montagem de vários stills com alguns “movimentos de câmera” de edição dentro deles) remetem diretamente a um livro de contos infantil, tornando-se não só uma brincadeira com o formato texto em que o filme se baseia (um conto russo), mas beneficiando a própria estrutura de suspense contida na narrativa. O off puramente sarcástico, critica de forma sutil o comportamento da juventude atual. A falta de comunicação (tema recorrente nos curtas de Kleber) entre pais e filhos aqui é posto em questão, sendo que este discurso se esconde, mas não desaparece frente a figuras quase trash que, no escuro, causam bom e leve desconforto.

Em Eletrodoméstica o formato é a película. A partir de uma fotografia natural, serão os enquadramentos e a arte que falarão pelo filme. O sarcasmo aqui é mais presente do que nunca, e o plano deboche da rua repleta de UNOs nos localiza muito bem neste conjunto de classe média bem média mesmo. Um plano resume bem o que significa para mim o filme: fazendo uma rima visual (proposital ou não) com Kubrick, uma steady-cam acompanha um carrinho de controle remoto por alguns segundos, remetendo imediatamente a Danny pelos corredores do Hotel Overlook. É o jogo feito pelo filme entre moderno e antigo, necessário e desnecessário, lembrando-nos de como o prazer causado pela tecnologia - em certo caso literalmente (máquina de lavar) - nos leva a um estado de dependência entorpecente. É um filme de rimas visuais, com o externo e com o interno (explosão da pipoca e orgasmo).

Em Noite de Sexta, Manhã de Sábado, a comunicação é o foco principal. Aqui, o fator moderno se dá na mediação feita pelo celular. É uma história de amor, mas que não deixa de apresentar uma veia irônica no seu tratamento. No começo vemos uma conversa legendada entre pessoas que falam o mesmo idioma e o nosso (português). É Kleber brincando com a prolixidade das pessoas, aquele ‘barulho demais’ do mundo contemporâneo que nos transforma em seres cada vez mais contraditórios (onde foi parar o “falar menos para falar mais?”). Logo depois a conversa é em “língua padrão universal” e mediada. O idioma não é o principal de nenhum dos dois interlocutores e a distância é minimizada artificialmente por este aparelhinho chamado celular que carrega em si todo um significado contextual. O formato, ao que aparenta, é um digital bem surrado (não entro a fundo no assunto, pois, ao que parece, a exibição do filme em Tiradentes não foi fiel à qualidade de finalização) que traz algo de melancólico em cada plano. É tudo muito quadrado, seco, sem vida. Só encontramos vestígios de luz nos olhares dos personagens, que sofrem como todos nós a distância, mas criam para si um alívio artificial. É a onda que se propaga através do oceano e lembra que estamos todos tão perto e tão longe.

O significado da imagem. Este está sendo o cinema feito por Kleber Mendonça Filho. Um questionamento interessante sobre o “cinema-formato”, que se torna coerente pela própria reflexão e abordagem presente na sua escrita (algo percebido também nos filmes de Eduardo Valente, outro crítico). É gostoso ver uma geração de realizadores pensando o cinema e a vida nos seus filmes que, ainda que limitados ao público de Festivais e internet, detêm uma importância grande para o nosso cinema ainda em construção.

Filmes Citados:
Ímpar Par (idem, 2005/ Esmir Filho)
Alguma coisa assim (idem, 2006/ Esmir Filho)
Tudo que é sólido pode derreter (idem, 2005/ Rafael Gomes)
Alice (idem, 2005/ Rafael Gomes)
Kalishnikov (idem, 2005/ Carlos Magno)
Igreja Revolucionária dos Corações Amargurados (idem, 2006/ Carlos Magno)
Um sol alaranjado (idem, 2001/ Eduardo Valente)
Castanho (idem, 2002/ Eduardo Valente)
O Monstro (idem, 2005/ Eduardo Valente)
Vinil Verde (idem, 2004/ Kleber Mendonça Filho)
Eletrodoméstica (idem, 2005/ Kleber Mendonça Filho)
Noite de sexta, manhã de sábado (idem, 2006/ Kleber Mendonça Filho)

Fonte: FilmesPolvo

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Nunca ouça o Disco Verde

Vinil Verde

O premiadíssimo curta-metragem pernambucano Vinil Verde entra em cartaz aqui no OutroCine. Esta instigante fábula mostra a relação afetuosa entre mãe e filha, focando no conflito que surge ao se transgredir as regras. A transgressão, neste caso, vem acompanhada de curiosidade, prazer, medo, culpa e punição. Segundo o diretor Kleber Mendonça Filho, "Vinil Verde é uma história de amor, mas com elementos do cinema fantástico". Um dos aspectos mais interessantes deste filme é o fato de ele não ter sido filmado, mas, sim, fotografado. Mendonça Filho (co-roteirista, diretor, produtor e fotografo de Vinil Verde) fotografou com negativo 35mm still, montou no computador e posteriormente fez transfer para película. Quem ainda tiver as antigas vitrolinhas, lembre-se: Nunca, mas nunca mesmo, escute o vinil verde!
Yerko Herrera

Sinopse
Mãe dá a Filha uma caixa cheia de velhos disquinhos coloridos. A menina pode ouvi-los, exceto o vinil verde.

Vinil Verde


Gênero Ficção
Diretor
Kleber Mendonça Filho
Elenco
Gabriela Souza, Ivan Soares, Verônica Alves
Ano
2004
Duração
16'15''
Cor Colorido
Bitola
35mm
País
Brasil

Ficha Técnica
Produção
Kleber Mendonça Filho Fotografia Kleber Mendonça Filho Roteiro Kleber Mendonça Filho, Bohdana Smyrnova Produção Executiva Kleber Mendonça Filho, Isabela Cribari, Leo Falcão Montagem Daniel Bandeira, Kleber Mendonça Filho


Curiosidades
Vinil Verde é uma adaptação de uma fábula infantil russa.
O roteiro é de Kleber Mendonça Filho em parceria com Bohdana Smyrnova, cineasta/roteirista ucraniana de Kiev. 

Vinil Verde, segundo o diretor, é, indiretamente, uma singela homenagem a um de seus filmes preferidos: "La Jetée", de Chris Marker. No entanto, Mendonça Filho afirma que, tematicamente, não tenha nada a ver. Marker está na lista de agradecimentos.
A Mãe e a Filha no filme são mãe e filha na vida real, Gabriela Souza (filha) e Verônica Alves (Mãe).

O filme foi montado num Mac G4, e fotografado em negativo 35mm still.
O arquivo final para transfer 35mm ficou com 49 GB de seqüências animadas em TIFF.


Prêmios
Melhor direção no Festival de Brasília 2004
Melhor Montagem no Festival de Brasília 2004
Prêmio da Crítica no Festival de Brasília 2004
Menção Honrosa ABD&C no Festival Internacional de Curtas de São Paulo 2004
Os 10 Mais - Escolha do Público no Festival Internacional de Curtas de São Paulo 2004
Prêmio Cachaça Cinema Clube no Festival Internacional de Curtas de São Paulo 2004

Festivais
Festival de Cinema Latino-americano de Toulouse 2005
Festival de Tampere 2005
Festival de Tiradentes 2005
Quinzena dos Realizadores - Festival de Cannes 2005
Cine PE 2005
Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro - Curta Cinema 2004
Festival Luso-Brasileiro de Santa Maria da Feira 2004


Originalmente postado no blogue Música&Poesia
Fonte filme: PortaCurtas

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Revelando os Brasis tem Inscrições Prorrogadas

Programa Revelando os Brasis prorroga prazo de inscrições até março
por Quênia Nunes
da Agência Brasil


Brasília - O prazo das inscrições para a terceira edição do programa Revelando os Brasis foi prorrogado até o dia 28 de março. O programa seleciona e premia 40 histórias escritas por moradores de municípios com até 20 mil habitantes, contadas em vídeos de até 15 minutos de duração.

As histórias podem ser reais – baseadas em personagens históricos ou típicos das cidades – ou de ficção. E são avaliadas por uma comissão de sete pessoas envolvidas com a área de audiovisual, entre professores, produtores e realizadores de reconhecimento nacional, que leêm as histórias, debatem e chegam às 40 selecionadas. O resultado sairá em maio.

Para Beatriz Paoliello, presidente do conselho administrativo do Instituto Marlin Azul, parceiro do Ministério da Cultura no projeto, disse considerar o programa uma “alfabetização visual”. Ela explicou que o objetivo é "iniciar um processo de formação nesses municípios que não têm muito acesso a cursos de cinema, um processo que se poderia chamar de alfabetização visual, porque a partir dessa experiência as cidades se mobilizam para novas produções, inclusive em outras áreas da cultura".

A grande maioria dos municípios não tem cinema e o Revelando os Brasis supre essa lacuna, acrescentou Paoliello, ao informar que os vencedores participarão de oficinas de dez dias no Rio de Janeiro, preparatórias de roteiro, fotografia, som, edição, direção de arte, mobilização cultural. No retorno, montam uma equipe com outras pessoas da cidade e, em parceria com o instituto, são contratados dois profissionais para operar os equipamentos.

Neste ano, as gravações serão em DVD e a distribuição, gratuita, para organizações sociais, bibliotecas, universidades e cineclubes de todo o país. Os filmes produzidos pelo Revelando Brasis já participaram de festivais nacionais e internacionais. "Uma enquete identificou muitos realizadores que continuaram no meio. Alguns estão estudando, outros decidiram fazer faculdade, outros aplicaram o conhecimento adquirido, outros montaram cineclubes. O projeto é um ponto de partida para as pessoas definirem seu rumo a partir da área com que mais se identificam no audiovisual", disse Paoliello.

Mais informações podem ser obtidas no endereço eletrônico
www.revelandoosbrasis.com.br.

Fonte: AgênciaBrasil

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Curta Othon Bastos em O Número

Assista o curta-metragem O Número, do diretor Beto Bertagna, produzido em Rondônia, estado escasso em produções cinematográficas. Este filme, feito com parcos recursos e muita garra, consegue prender o espectador com um ótimo texto e a brilhante interpretação de Othon Bastos.



O NÚMERO
Um homem troca de nome até conquistar um, definitivo...
Baseado em conto do livro Babel, de Alberto Lins Caldas. Um
curta-metragem brasileiro premiado em Festivais de Cinema.

O Número



Sinopse
Em "O Número" um homem narra a trajetória de sua vida. Ao longo dos anos, seu nome vai constantemente mudando e, com isso, também vão mudando as circunstâncias de sua vida e até os traços de sua personalidade. O filme é baseado em um conto homônimo de Alberto Lins Caldas e tem, como protagonista, o genial Othon Bastos.

Gênero Ficção
Diretor Beto Bertagna
Elenco Othon Bastos
Ano 2004
Duração 10 min
Cor Colorido
Bitola 16mm / Vídeo
País Brasil

Ficha Técnica
Produção Beto Bertagna Cinema & Vídeo Fotografia Rodolfo Ancona Lopez Roteiro Alberto Lins Caldas Som Direto Gilmar Santos Direção de Arte Joeser Alvarez Montagem Beto Bertagna Música Augusto Silveira

Prêmios
Melhor Ator no Cine Ceará 2004


Leia abaixo matéria da Agência Carta Maior sobre o filme "O Número", publicada em 24/03/2006.
por Eduardo Carvalho - Carta Maior


Conversamos com o diretor, que mora em Rondônia, e que nos narrou as peripécias para filmar um curta-metragem em um estado no qual não há a menor tradição de produção cinematográfica e onde os recursos são muito escassos.

A idéia de fazer “O Número” nasceu na noite de lançamento do livro de contos “Babel”, do escritor pernambucano Alberto Lins Caldas, que está radicado em Rondônia. “Folheando o livro, me deparei com o conto e imediatamente pedi ao Alberto, no meio da festa, se poderia filmar. Ele achou que era brincadeira e permitiu, entre gargalhadas. Apresentei o projeto no Petrobrás Cultural e ele levou um susto quando, mais tarde, eu mostrei a notícia do Prêmio” – conta Beto Bertagna.

A certeza da participação do Othon Bastos, que o Alberto adorava como o Honório, no filme “São Bernardo”, veio depois. “Para mim, “O Número” além do valor literário era um filme bem possível de ser feito dentro da pobre realidade audiovisual de Rondônia. Ou seja, um ator só, num cenário só e luz natural, mais o auxílio de alguns equipamentos de luz doados há um tempo atrás pela Edna Fujii e pelo Roberto Bicudo, da Quanta, que acreditaram na idéia da gente começar um processo de formação de técnicos aqui no Estado. Aliás, eu sou do tempo e da turma do Ricardo Aronovitch, que veio fazer um estágio avançado de fotografia na UnB, lá pelos anos 90. Só que, como muitos da época, acabei dedicando-me mais à direção do que à fotografia”. – relata Bertagna.

Diante da escassez de recursos, a cenografia foi toda improvisada dentro de uma faculdade, o que despertou muita curiosidade. “Imagine, uma prisão dentro de uma faculdade! É surrealista! E a grade não era cenográfica, era uma grade de verdade, emprestada pelo chefe da Polícia, o Carlos Eduardo Ferreira, de uma delegacia em reforma. Eu cheguei num domingo de tarde na delegacia, de óculos escuros, bermudas e chinelo de dedo e falei que eu precisava levar a grade embora. O plantonista ficou me olhando com uma cara...” – conta o diretor.

O curta de 12 minutos foi filmado em um dia. Era para ser em dois, tempo que o Othon tinha para filmar, mas, no primeiro dia, caiu um dilúvio em Porto Velho acabando com o cenário que estava destelhado para aproveitar a luz natural e, assim, com qualquer possibilidade de filmar. “No outro dia, com a colaboração de toda a ABD/RO, que obviamente cabe numa Kombi, começamos bem cedo e fomos até o último fio de luz” – brinca Beto Bertagna.

Ainda sobre as dificuldades, o diretor conta que, em Rondônia, não existe política cultural definida para o audiovisual. O último edital para incentivo à produção foi em 1996, há 10 anos, portanto. O projeto para filmar “O Número” já existia, mas só foi possível realizá-lo com o prêmio Petrobras, destinado a “mídias digitais”, que é a categoria em que ele concorre nos festivais pois foi finalizado assim. “Resolvi dar um “plus” captando em 16 mm, e foi talvez o primeiro filme rondoniense captado em película. Parece que também foi o primeiro prêmio Petrobrás para a região norte, que sempre foi muito alijada de todos os processos culturais” – comemora Bertagna.

Outra coisa engraçada foi a escolha da roupa do Othon. Beto Bertagna esperou ele chegar em Porto Velho pra não errar no tamanho. Levou-o a um brechó de um bairro bem humilde nas proximidades de onde aconteceria a filmagem. “O Othon acabou fazendo o maior sucesso, dando autógrafos às pessoas que não acreditavam no que viam. O Othon Bastos comprando uma bermuda e uma camisa velha! No final, compomos o nosso figurino com menos de 5 reais!” – lembra o diretor.

Para a filmagem, Beto conseguiu uma câmera Éclair 16 mm de um amigo documentarista, o Celso Luccas. A câmera estava nova, mas não filmava já há um bom tempo. O diretor de fotografia, o Ruda (Rodolfo Ancona Lopez) fez um pequeno teste e começaram as filmagens. No meio do filme, as borrachas de vedação do magazine, que estavam ressecadas pela falta de uso, começaram a desmanchar. Neste momento o diretor, que é hipertenso, viu a importância de contar com um profissional de mão cheia como o Ruda. “Tudo parado e ele, atrás de uma lona, passando com a maior tranquilidade cola bonder na brava Éclair...” No final tudo deu certo, a câmera perdeu o sincronismo quando a parte do Othon, que é com som direto, já tinha acabado. Mais tarde a equipe ficou sabendo que a própria câmera era uma história que merecia um filme: ela fazia os cinejornais do regime do último xá do Irã, Mohamad Reza Pavlev e, ironia do destino, acabou vindo fazer “O Número” em Rondônia.

A respeito do trabalho do Othon Bastos, Beto conta que “como se diz brincando: um Othon Basta. O seu talento já era conhecido por todos, mas ele também nos encantou pela simpatia e generosidade, tanto é que, no ano seguinte, ele foi um dos homenageados do Cineamazônia pela sua força à nossa tentativa de desenvolver o audiovisual no Estado. A participação dele foi importantíssima para incentivar as produções fora do eixo Rio - São Paulo, e mostrar que é possível realizar filmes em locais com infra-estrutura precária para a produção audiovisual. E de nossa parte, nós tentamos superar as carências retribuindo com muito carinho aos profissionais que nos apóiam”.

Logo na primeira participação de “O Número”, no Cineceará, o Othon Bastos venceu como melhor ator. O filme também participou do II Fest Belém do Cinema Brasileiro, “mas a sua carreira poderia ter sido melhor, foi um pouco prejudicada pela minha falta de tempo e de recursos” – lamenta Beto Bertagna. Em 2005, “O Número” foi projetado com legendas no Brazil Cine Festival, em Gotemburgo, na Suécia e foi bem recebido pela platéia.

Sobre seu envolvimento com novos projetos cinematográficos, Beto conta que acabou de realizar o DOCTV “O Brasil que começa no rio...”, mostrando um pouco das cores, costumes, tradições e das dificuldades do povo ribeirinho do Vale do Guaporé na fronteira do Brasil com a Bolívia. Em abril de 2006, filmará a parte ficcional de um documentário em 35 mm sobre a vida do fotógrafo norte-americano Dana Merril, que registrou a construção da lendária Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. O filme já tem confirmado o ator Marcos Palmeira, e vai trazer depoimentos do escritor Manoel Rodrigues Ferreira e do fotógrafo Ari André, fundamentais para a compreensão da História, e será todo rodado em Rondônia.

Há ainda o projeto de um documentário sobre a vida de dois sujeitos que moram frente a frente na fronteira real do Rio Grande do Sul com o Uruguai, o arroio Chuí, lugar onde o diretor passava as férias na infância e que quer revisitar. E, em 2007, Beto Bertagna deve partir para um longa de baixíssimo-orçamento com roteiro do Alberto Lins Caldas que, no momento, está desaparecido em algum lugar ermo e remoto de Pernambuco, quiçá fazendo mais um tratamento do roteiro do filme que deverá chamar-se “Vitrines”.

Fonte Matéria: AgênciaCartaMaior


Postagem originalmente produzida para o blogue Música&Poesia

sábado, 5 de janeiro de 2008

Nanquim: Surrealismo em Curta-Metragem

Curta a Viagem Surreal desta Produção

Nanquim é um filme experimental, realizado no Mato Grosso do Sul, que nos remete a uma experiência surreal. No curta, de Maurício Copetti, as tintas ganham formas não percebidas pela crueza do dia-a-dia. Nanquim por todos os lados: na escrita, desenho, pintura, tatuagem. Esta produção aguça nossa percepção sensorial. Imagem, som, forma, música, luz, pintura... O abstrato dando vida a um poema visual, onde o antigo e moderno se confundem.
Y.H.





NANQUIM

Sinopse
Uma imersão onírica no mundo das formas.

Gênero Ficção
Diretor Maurício Copetti
Elenco Bianca Machado, Buba Marques, Rubem Dario e Tatiana Santiago
Ano 2005
Duração 17 min
Cor P&B
Bitola Vídeo
País Brasil

Ficha Técnica
Produção Mauricio Copetti de Moura Fotografia Hélio Camerieri Roteiro Mauricio Copetti e Lucas Bicca Direção de Arte Dagô Pedroso Câmera Hélio Camerieri e Mauricio Copetti Edição Mauricio Copetti Edição de Som Leo Copetti Produção Executiva Mauricio Copetti


Fonte: Música&Poesia