terça-feira, 31 de julho de 2007

Morre Ingmar Bergman

Cinema chora a morte de Ingmar Bergman

Agência EFE

COPENHAGUE - A morte do cineasta Ingmar Bergman aos 89 anos abalou a sociedade sueca e o mundo do cinema, que há cinco décadas reconhecia unanimemente o diretor como um de seus grandes mestres.

Bergman, considerado um dos diretores mais influentes da segunda metade do século XX, morreu em casa da ilha de Fårö, no Mar Báltico, cercado pela família.

Sua filha Eva Bergman, encarregada de dar a notícia, disse que a morte do cineasta foi "pacífica e tranqüila", mas não explicou as causas.

- Eu o visitei na semana passada e já percebi que ele nos estava deixando. Era um homem velho que morreu calma e docemente em sua cama, um velho coração que deixou de bater - afirmou o genro do diretor, o escritor sueco Henning Mankell.

A notícia da morte de Bergman provocou uma chuva de pêsames de personalidades da cultura e da política suecas, entre elas o primeiro-ministro do país, Fredrik Reinfeldt.

- A obra dele é imortal. Espero que sua herança seja cuidada e desenvolvida por muitos anos - disse Reinfeldt em comunicado.

Durante a longa carreira, Bergman dirigiu mais de 100 peças de teatro, muitos programas de televisão e mais de 40 filmes.

O cineasta nasceu em 14 de julho de 1918 em Uppsala, ao norte de Estocolmo, e cresceu em um ambiente religioso e autoritário que marcaria sua personalidade e obra.

Seu pai, pastor protestante, costumava castigar Bergman trancando-o num armário. Para combater o ambiente repressivo da casa, o diretor de cinema acabou criando um mundo de fantasia, como explicou mais tarde.

Após estudar arte e literatura em Estocolmo, Bergman se dedicou a escrever e dirigir peças de teatro, sua grande paixão.

A carreira cinematográfica começou em 1944, quando escreveu o roteiro de "Tormento" para o diretor sueco Alf Sjöberg.

O longa-metragem, que ganhou vários prêmios e no qual Bergman trabalhou como auxiliar de direção, é baseado nas recordações da infância do diretor e causou grande polêmica na Suécia da época, pois colocava em xeque o sistema educacional do país.

Pouco depois, Bergman aprendeu todos os aspectos técnicos do cinema, desde iluminação e som até a montagem, com o objetivo de controlar completamente a produção de seus filmes.

Além disso, começou a aplicar o conselho dado por um de seus ídolos, o diretor sueco Victor Sjöström: "Não discuta tanto com todo mundo. Só conseguirá que se aborreçam e desmereçam seu trabalho".

Após dirigir quatro filmes com roteiros de outros autores, Bergman estreou "Prisão" (1948), seu primeiro filme como roteirista e diretor.

No entanto, o reconhecimento internacional só chegou com a estréia de "Sorrisos de uma Noite de Amor" (1955), com o qual ganhou o prêmio especial do júri no Festival de Cannes.

O filme seguinte, "O Sétimo Selo" (1956), se tornou rapidamente um clássico do cinema autoral e levou Bergman ao Olimpo da sétima arte.

A partir daí, o cineasta assinou mais de 30 filmes, refletindo uma visão trágica das relações humanas e recebendo, por isso, o estigma de autor obscuro e atormentado.

Entre seus filmes destacam-se "Morangos Silvestres" (1957, prêmio de melhor direção do Festival de Cannes), "A Fonte da Donzela" (1960, Oscar de melhor filme estrangeiro), e "Fanny e Alexander" (1983), seu último filme, pelo qual ganhou quatro estatuetas em Hollywood (filme estrangeiro, fotografia, direção de arte e figurino).

Depois, Bergman se dedicou a dirigir peças teatrais e séries de televisão, e seus roteiros foram dirigidos por outros cineastas, como o dinamarquês Bille August, que realizou "As Melhores Intenções", Palma de Ouro em Cannes em 1992.

Nos últimos anos, Bergman morou em Fårö e foi se preparando mentalmente para aceitar a morte, uma de suas obsessões.

- Quando era jovem, tinha um medo horrível de morrer. Agora acho que é uma solução muito, muito correta. É como uma vela que se apaga. Não há muito o que discutir - disse em uma de suas últimas entrevistas.

Fonte: JBOnline

domingo, 29 de julho de 2007

O Orgasmo de Diretora Mexicana

Las veces que pienso en
Interessante filme mexicano, de Dalia Huerta Cano, tão rápido quanto um pensamento, nem por isso fugaz.

Sinopse
Os momentos nos quais uma jovem pensa em um orgasmo.


Ou veja o curta no reprodutor abaixo:

Las veces que pienso en



Gênero Ficção
Diretor Dalia Huerta Cano
Elenco Alejandra Romo Chavez
Ano 2007

Duração 42s
Cor Colorido
Bitola Vídeo
País México

sábado, 28 de julho de 2007

Prazer Celestial

Todo ser humano tem necessidades fisiológicas básicas, ninguém está imune a isso. Este curta-metragem espanhol, através de uma câmera subjetiva, mostra a intimidade de uma pessoa na busca de prazer. Todo o orgasmo é um pedacinho do céu. Filme não recomendado para menores, puritanos e católicos fervorosos.
Y.H.

¡Dios! (Orgasmo Celestial)


Sinopse
Existem muitas maneiras de encontrar a abençoada glória...

Gênero Ficção
Diretor Miguel A. Carmona
Elenco Carolina Casteliano, Ana Rosa Begines, Beatriz Beach
Duração 2’03''
Cor Colorido
Bitola Vídeo
País Espanha


Ficha Técnica
Roteiro Alvaro Begines Fotografia e Montagem Sergio Román Som José A. Carmona

Lutar Ocupar Resistir e Morar

Sinopse
O documentário 1 ano e 1 dia, de Antonio Amaral, João Xavier e Rafael da Costa, retrata a comemoração dos moradores do acampamento 17 de Maio, em Nova Iguaçu, município da Baixada Fluminense, após 366 dias de ocupação do terreno, o que legalmente garantiu-lhes a posse da terra.

Filmado em um único dia e sem recursos externos, 1 ano e 1 dia mostra a luta daqueles que batalharam por um pedaço de terra e que, mesmo sob o terror da violência policial, persistiram no sonho. Os diretores acompanharam as comemorações de aniversário da ocupação e reconstruíram, por meio de entrevistas com os moradores, a história das batalhas travadas até
ali.

1 ano e 1 dia


Gênero Documentário
Diretor Cacau Amaral / João Xavier / Rafael Costa
Ano 2004
Duração 15’
Cor Colorido
Bitola DV
País Brasil (RJ)


Ficha técnica
Direção Cacau Amaral, João Xavier, Rafael Costa Roteiro Cacau Amaral Fotografia Rafael Costa Edição Cacau Amaral, Rafael Costa Produção Cacau Amaral, João Xavier, Rafael Costa


Prêmios
Prêmio Cara Liberdade - Mostra do Filme Livre 2005
Melhor Filme Livre (Júri Popular) - Festival de Jovens Realizadores de Audiovisual do Mercosul 2005
Curtas-Metragens da Unioeste (PR) 2005


Contato com os realizadores 1anoe1dia@matecomangu.com.br

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Distribuidora de filmes nacionais fora de circuito para salas não-comerciais

INCLUSÃO AUDIOVISUAL
Construindo cineclubes a partir de filmes

Iniciativa do Ministério da Cultura cria distribuidora de filmes nacionais fora de circuito para salas não-comerciais e vence barreiras políticas convencionais ao alcançar pontos em todos os estados do país, mas sem mexer nas barreiras do direito autoral.

Guilherme Jeronymo*

SÃO PAULO - Lançado no último dia 5 de fevereiro em São Paulo, o Projeto Programadora Brasil, iniciativa da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura (SAV), da Cinemateca Brasileira (por meio da Associação Amigos da Cinemateca) e do Centro Técnico Audiovisual (CTAv), selecionou 126 títulos das últimas nove décadas e os compilou em 38 DVDs (ou “programas”). Os programas são distribuídos para o circuito não-comercial de exibição, especialmente para cineclubes, Pontos de Cultura, instituições escolares da rede pública e privada e outras entidades civis sem fins lucrativos, como o Cinusp Paulo Emílio, da Universidade de São Paulo, que exibe filmes da distribuidora desde o começo de julho. Em comum, o fato das obras serem todas nacionais, algumas históricas, outras em distribuição por diferentes empresas, mas todas fora do grande circuito, relegadas a especialistas ou às estantes.

O projeto foi pensado com o triplo objetivo de servir de base para o fortalecimento dos circuitos não comerciais de difusão pública para democratizar o acesso ao patrimônio audiovisual brasileiro, para a formação de público para o cinema brasileiro e para fomentar o pensamento crítico em torno da produção nacional.

Para Frederico Cardoso, coordenador geral do projeto, ”os brasileiros passaram a conhecer cada vez menos seu audiovisual, fora o televisivo, muito por conta do desaparecimento das salas de cinema dos municípios fora das capitais e das salas de rua das grandes capitais. Ficamos com ingressos caros nas capitais e sem janelas de exibição no interior. Com a tecnologia digital, as salas alternativas já pipocam por aí. Faltava organização de acervo e sua disponibilização, além do fortalecimento das salas alternativas como circuito, de maneira que haja diálogo e interação”.

Para instituir este circuito, o projeto conta com um vultuoso investimento, de R$ 1,2 milhão para as fases de implantação e lançamento, e um orçamento previsto de R$ 1,5 milhão para 2007, geridos por um Conselho Deliberativo, do qual participam Orlando Senna, Secretário do Audiovisual do MINC, Leopoldo Nunes, diretor da Ancine, José Araripe, diretor do CTAv, Carlos Magalhães, da Cinemateca Brasileira e Cardoso. Cardoso é responsável também pela gestão executiva.

Pesam, por sua vez, além da pressão para estabelecer uma rede nacional de cineclubes que sustente a distribuição de filmes, dentro ou fora do projeto, o objetivo de ampliar o acervo com lançamentos regulares de novos programas e os conseqüentes investimentos em recuperação de filmes, crítica e divulgação. Para tal, o programa estabelece uma taxa, que inclui R$ 4 para o projeto, R$ 6 em direitos autorais e o custo de envio dos DVDs, variando de acordo com a quantidade de programas encomendados e em negociação com os Correios. Os 38 DVDs saem em torno de R$ 600, e o caráter da licença é temporário, de dois anos, após o que os DVDs devem ser devolvidos.

O projeto garante os direitos autorais previstos na Lei 9.610/98, como forma ainda de evitar a cessão a terceiros, a cópia ou a duplicação dos programas, a exibição em circuitos comerciais e a cobrança de ingressos.

Qual cinema brasileiro?
Os filmes na programação, por sua vez, obedeceram a critérios variados, escolhidos por uma equipe de curadoria. “Há filmes para todos os gostos e a linha é essa, por mais que pareça solto demais. Não o é. A equipe de curadoria é formada por profissionais que atuam no setor audiovisual como críticos, realizadores, pesquisadores, de diferentes regiões do país, respeitando uma orientação de política pública do Ministério da Cultura”. Entre os títulos indicados pela curadoria, há exemplares da cinematografia brasileira de todas as épocas, em todos os formatos, bitolas e gêneros e de todas as regiões do país.

O projeto prevê ainda mais três etapas de lançamentos, com um total de cerca de 250 títulos. As três seleções estarão sob coordenação de Francisco César Filho. O planejamento é para, em breve, alentar mais de 500 filmes que até três meses atrás estavam parados nas prateleiras.

“É surpreendente ver a riqueza que existe, em todos os suportes, em nossos filmes. Agora vamos trazer também algumas coisas em Super 8, como Edgar Navarro, e em Videoarte, desde a geração de 1970. Pretendemos incluir todas as bitolas, nosso sonho é ter até Trapalhões, pois é preciso ter o popular, o culto, o clássico e o comercial”, explica Nunes. De acordo com o representante da Ancine, várias distribuidoras tem contribuído para o projeto, com filmes que ainda estão em seu catálogo, como a Videofilmes, que cedeu os direitos de Terra Estrangeira para o projeto. O próprio Nunes “cutuca” um pouco mais, em busca da importância do projeto para a memória cinematográfica nacional: “Estas obras estavam paradas, encostadas. Se outras mídias se interessarem em divulgá-las, serão muito bem-vindas. Se outros se propuserem a fazer um trabalho semelhante, é muito bom. A gente quer mostrar que isso é viável, e que nosso cinema não pode ficar enterrado, sem ninguém saber que ele existe”.

Um breve histórico
“Esse é um programa que é central desde que chegamos à SAV em 2003. Há toda a questão econômica do cinema, em suas mídias - salas, vídeos, TV fechada e aberta. Passado este ciclo, ele passa para o universo do “estoque”, vai para a fase dos cineclubes, que são a ‘dimensão cultural do filme’, tenha ele feito sucesso no mercado ou não. De 1990 para cá, a distribuição deste estoque acabou, com o fim das grandes distribuidoras de filmes nacionais, restando os divulgadores de filmes específicos, como o Aliança Francesa, o Instituto Brasil-Japão e o Goethe Institute. Sem distribuidoras nacionais e sem legislação específica, os cineclubes minguaram. Nossa política, com o Programadora, é de recuperar essa dimensão cultural do filme, complementando a dimensão econômica deste ciclo da indústria cinematográfica”. Desta forma, Leopoldo Nunes, hoje um dos diretores da Ancine, mas à época na SAV do Ministério da Cultura e um dos idealizadores do projeto, desvenda-nos o cenário que permitiu sua “maturação”, e pensa que esses desafios podem ser superados com o uso das tecnologias digitais: “Hoje, com 8 ou 10 mil reais de investimento em equipamentos, é possível projetar para 100 pessoas com uma mídia digital de qualidade. Faltam os conteúdos”.

Complementando essa “origem” apresentada por Nunes, Frederico Cardoso coloca que “houve, faz pouco tempo, a explosão digital e de salas alternativas, cineclubes, escolas, enfim, toda sorte de estruturas, que começaram a exibir regularmente. A primeira demanda foi a falta de títulos com permissão para exibição, ocasionando um impasse no crescimento desses pontos de exibição. O DVD, o projeto digital, são ferramentas que colocam o audiovisual brasileiro à disposição de todos. O Programadora Brasil vem para organizar e disponibilizar esse conteúdo”.

Mas é possível, e saudável, "criar" um gosto pelo audiovisual nacional, que parece não existir hoje? Cardoso discorda desta premissa, colocando que o interesse pelo cinema nacional existe e fica claro no circuito cinematográfico, ao que completa: “O nosso trabalho é dar acesso e aguçar o interesse. Estamos apresentando a Programadora Brasil por todo o país, assim como nos encontros de cineclubes e dos Pontos de Cultura. Além disso, estamos em final de negociação com o SESC Nacional para inclusão de unidades como pontos de exibição alternativos com conteúdo da Programadora, e participamos recentemente do Fórum de Secretarias de Estado de Cultura (leia cobertura aqui), onde afinamos agenda comum com os secretários para que consigamos chegar a todas as prefeituras do Brasil”.

Até o momento, entre pontos cadastrados e em cadastramento, há um total de 400. Em dois anos o objetivo é alcançar, ou ultrapassar, 2.000 salas, quantidade de salas de exibição comercial que existe hoje (leia matéria sobre o tema). ”E tudo isso em um Circuito Gratuito, não comercial. Aos poucos, o projeto tem se tornado viável, temos recebido muita adesão das Secretarias de Educação e dos programas oficiais de educação para constituição de cineclubes nas escolas. No país, além do convênio que deve ser firmado com o SESC, o CNC é um parceiro bastante envolvido.”, completa Nunes. No último sábado, dia 21, o projeto foi lançado oficialmente em Minas Gerais, durante o 9° Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte. Recentemente foi lançado também em Salvador, no III Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual (leia matéria e veja cobertura completa aqui) e, em Belo Horizonte, durante o 9° Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte.

Sessão Brasil?
A questão do público, porém, ainda não está de todo definida no projeto. Resta uma ambigüidade: lutar por uma maior exibição dos filmes, inclusive nas TVs paga e aberta, ou mantê-los restritos ao circuito de cineclubes, como forma de garantir público, fortalecer e reerguer este circuito? Cardoso problematiza a questão: “Estamos estudando maneira para veicularmos nas TVs Públicas, mas se lançarmos na TV antes, ou simultaneamente, estaremos dando um tiro no pé. Por isso, estamos implantando uma modalidade de cada vez”.

Outra questão a ser levada em conta é a de que o cinema brasileiro não predomina nas TVs. Na TV aberta, a mais acessível, somente dois canais passam periodicamente filmes nacionais – a Rede Globo, com uma sessão semanal de seu “Intercine” e sessões sazonais de filmes brasileiros, nas férias de verão, e a TV Cultura, com os programas “DOC TV”, “Cine Brasil” e “Campus”. Cardoso coloca o papel do Programadora também neste espaço, como um meio de suprir esta falta de filmes nacionais no cotidiano do brasileiro: “A idéia é apresentar algo diferente [do grosso da programação das TVs] e com os nossos sotaques, não para acabar com a exibição de filmes estrangeiros, mas para que o público tenha a oportunidade de escolher quando, onde, como e porque assistir a qualquer tipo de audiovisual, venha de onde vier. No nosso caso, o audiovisual brasileiro é o que tem maior campo aberto para se alastrar e se estabelecer”.

Cineclubes para quê?
Um dos objetivos do projeto é ainda o de fortalecer o diálogo e interação entre os pontos de exibição, inicialmente através de um portal que deverá estar acessível em meados de setembro, baseado em uma série de fóruns autogestionados. Tal ferramenta reflete a necessidade de tratar os cineclubes como uma cadeia econômica, que precisa criar material crítico e gerar uma rede, independente do governo.

Aprofundando esta política de revalorização do movimento cineclubista para permitir a manutenção dos filmes nacionais fora do circuito das salas comerciais e das videolocadoras, a Ancine estuda como regulamentar novamente os Cineclubes. De acordo com Nunes, “o Cineclube deixou de ser regulamentado em 1990, o que é necessário para definição de que não se trata de um espaço não comercial. Se não é regulamentado, oficialmente se trata de dar aos cineclubes o mesmo tratamento que se dá ao circuito comercial. Com a criação da Ancine, há uma pressão para isso mudar, pois a agência tem de fiscalizar, punir, e também levantar esta discussão. Mas o cineclube não é uma estrutura comercial, tem exploração diferente, associativa/cultural e sem fins lucrativos”. A normatização da Ancine está prevista para o segundo semestre deste ano.

De acordo com Nunes, fiscalizar o movimento de forma dura sem levar em consideração seu caráter cultural e sua tradição é gerar um atrito, certo e desnecessário. “Estamos fazendo esta discussão com todas as áreas competentes da Ancine e com a sociedade, com realização inclusive de palestras com nomes consagrados do movimento cineclubista. Estamos ouvindo os poréns dos técnicos, e muita gente antes contrária a uma regulamentação é favorável agora, ao entender o aspecto cultural do Cineclube e sua importância. Eu, nos anos 80, via filmes todo dia, de todos os lugares do planeta. Hoje, as gerações só têm cinema americano e o brasileiro oferecido pelas companhias pelo artigo 3°. Temos reunido documentos e construído consensos para permitir este salto, esta definição”, completa o gestor.

Entre as diversas dificuldades que esta falta de regulamentação coloca aos pontos potenciais de exibição, está a necessidade de a instituição ter CNPJ para poder ter a licença de exibição, o que foi resolvido, parcialmente, permitindo que o ponto vincule a atividade a um CNPJ parceiro, como por exemplo o do CNC. ”Ter uma estrutura jurídica quer dizer gasto mensal fixo. A atividade cineclubista ainda não está reconhecida nem regulamentada pela ANCINE – esse processo está em curso. Acontece, então, que cineclubes não existem oficialmente e não conseguem ter uma atividade sustentável, a não ser que sejam ligados a alguma outra instituição, o que é uma minoria dos casos”, completa Cardoso.

Participando da cerimônia de lançamento do programa, em fevereiro, na Cinemateca Brasileira, o Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros mostra-se próximo da idéia, e aberto às discussões desta gestão. Por outro lado, a Ancine discute com a gestão dos Pontos de Cultura, no Ministério, a inserção qualificada dos Pontos que tem a vocação para atuarem como cineclubes. Está em negociação entre a Ancine e a Secretaria de Programas e Projetos Culturais a criação, em cerca de 400 Pontos de Cultura, de Cineclubes. “Hoje, 66% dos Pontos de cultura tem vocação audiovisual. Mais de 400 podem ser pontos de difusão, qualificando-se como cineclubes e com acesso ao melhor do cinema brasileiro, através do Programadora Brasil. O que não queremos fazer é mandar um kit para cada Ponto de Cultura, sem estímulo, sem formação de quem está na ponta, sem o conceito de cineclubismo”, coloca Leopoldo Nunes, um dos diretores da Ancine e um dos responsáveis pelo projeto.

Está prevista, além da distribuição dos filmes, o suporte através de um “manual de cineclubes” e da instituição de uma rede de troca e produção de conteúdos críticos a estes filmes, em site que irá ao ar em aproximadamente dois meses, no endereço do Programadora (visite aqui). “O Ponto de Cultura faria então parte de uma grande rede amadora, no sentido de amar mesmo o cinema, que está sendo construída. Uma rede de pessoas capazes de entender os filmes, não apenas de vê-los”, completa Nunes.

A idéia é chegar a todos os espaços possíveis, a todos os ambientes. “Estamos estudando inclusive como colocar a Programadora no Second Life, que tem tido um nível de adesão muito parecido com os outros fenômenos do mundo virtual. Nossa equipe está muito surpresa com a diversidade de coisas que se encontra nesta mídia. Não duvidaria se, para 2008, isso não se tornasse viável, talvez até com uma sala de exibição direta por lá”, encerra, entusiasmado, Nunes.

(*) 100canais.

Fonte: CartaMaior

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Entrevista com Jorge Furtado

VIVA O FILME BRASILEIRO
por Ana Paula Sousa


Em Saneamento Básico, o filme, o diretor Jorge Furtado faz piada com o cinema e, ao mesmo tempo, defende a produção nacional. Em entrevista para o site de CartaCapital, ele fala sobre o filme e os desafios de ser cineasta

Jorge Furtado tem sempre uma tirada na ponta da língua. Parece até que inventa roteiros enquanto fala. Na entrevista coletiva para o lançamento de Saneamento Básico, o Filme , realizada na terça-feira 10, num hotel da avenida Faria Lima, em São Paulo, Furtado e a trupe de atores de sua mais nova comédia, ria e fazia rir. Era como se eles tentassem, ali, esticar o clima do longa-metragem.

E Saneamento Básico é, de fato, muito engraçado (leia crítica aqui). O novo trabalho do diretor do cultuado curta-metragem Ilha das Flores (1989) e de longas-metragens como O Homem que Copiava (2003) e Meu Tio Matou um Cara (2004) brinca com a produção cinematográfica ao botar, nas mãos de uma simplória família, uma câmera de vídeo. Na entrevista abaixo, Furtado, sócio da Casa de Cinema de Porto Alegre, fala sobre o novo filme (www.saneamentobasicoofilme.com.br) e, claro, do cinema nacional.

CartaCapital: O público vai entender as piadas internas, as brincadeiras com roteiro, merchandising, figurino?Jorge Furtado: Essa era minha maior dúvida. Mas fizemos sessões com gente que não tem nada a ver com cinema, como as professoras da rede pública de Porto Alegre, e todo mundo riu. Tem muito filme sobre filme, mas Saneamento Básico não é isso. Não é uma equipe de cinema fazendo cinema. É gente que não tem a menor idéia do que seja uma câmera e vai fazer um filme.


CC: É mais uma declaração de amor ao cinema do que uma crítica ao sistema de produção?

JF:
É as duas coisas. Acho que até nasceu mais com uma crítica, não sei, mas quando vi o filme montado me dei conta do quanto era uma declaração de amor ao cinema. É um filme sobre o poder que o cinema exerce sobre quem vê e quem faz. A idéia surgiu daquele projeto Revelando Brasis, do Ministério da Cultura, que propõe que comunidades pequenas façam vídeos. Eu fiquei pensando: como essas pessoas fariam um filme? No fundo, elas têm outras demandas. Que demanda seria? Por saneamento básico, que é a primeira coisa que você tem que ter. Na escala das necessidades, o cinema é o extremo oposto do saneamento básico.

CC: Esse filme é também uma resposta às acusações da revista Veja (Furtado ganhou um processo judicial contra a revista) que te chamou de cineasta petista e questionou o orçamento do filme que você faria para o Banco do Brasil?
JF:
Ao contrário. O roteiro do Saneamento Básico já estava escrito quando o Banco do Brasil convidou sete diretores para fazer um filme sobre os valores do Brasil. Me convidaram para falar de fraternidade e, como o orçamento era alto, com o que sobrou eu resolvi construir uma quadra de esportes na Ilha das Flores, onde tinha feito o curta. O Saneamento é anterior ao Fraternidade, como roteiro.

CC: Mas Saneamento não acaba sendo também uma resposta a quem, vira e mexe, questiona a legitimidade do cinema brasileiro? Como diz o (cineasta) Eduardo Escorel, parece que o cinema brasileiro tem sempre que justificar a própria existência.
JF:
Parece mesmo. Eu escolhi, como tag line do filme a frase “Se é pra fazer, é melhor fazer bem feito”. Tem gente que ainda levanta a pergunta: “O Brasil precisa fazer cinema?”. Isso prossegue entre um tipo de público muito formado pelo cinema americano. Mas eu acho que a função dos cineastas e das pessoas que trabalham com cultura é produzir e tentar convencê-los, pela qualidade, de que sem cultura um País não existe. A Fernanda Torres disse, na entrevista coletiva, uma coisa que eu achei bonita: “O cinema é o saneamento básico da alma”.

CC: Difícil é convencer o público a ir ver, né? Você tem uma boa máquina por trás, com GloboFilmes, atores da novela eColumbia. Mas o problema do cinema brasileiro é que o público, simplesmente, não tem ido ver os filmes.

JF:
Pois é. Mas a gente tem que continuar tentando quebrar esse preconceito. Eu não sei porque, mas, de 1993 a 2003, o público cresceu sem parar. Em 2003, começou a cair de novo. Talvez, até ali se tenha conseguido criar um clima de “ah, o cinema brasileiro é legal”, mas aí as pessoas iam ver e foram percebendo que nem todos eram legais. Então começou, talvez, um certo refluxo. No ano passado, acho foram 14 milhões de ingressos. Em 2003, foram 22 milhões. A gente tem que quebrar esse preconceito com qualidade e diversidade. Acho que o maior problema é que nós, cineastas, continuamos fazendo do cinema brasileiro um gênero. Nas locadoras, continuamos na prateleira de cinema nacional. A gente não tem que trabalhar em bloco. Há espaço para Cão sem Dono, Baixio das Bestas, Saneamento Básico, Romance, que é o próximo filme do Guel. A diversidade que eu espero, como espectador, deve nortear os realizadores também. O Borges dizia “eu não sou inimigo dos gêneros”. Eu também não sou. Posso gostar de filme de terror, de comédia, de velharia.

CC: O Saneamento é um pouco o elogio da diferença, não? Uma coisa pode ser esquisita e boa.

JF:
É, o Zico (montador do vídeo fictício, personagem de Lázaro Ramos) adorou o filme, viu ali uma novidade. Eu vejo muito o Canal Brasil, sabe? E mesmo filme ruim, eu gosto de ver. Você vê a nossa ruindade. O filme é ruim, mas tem a ver com a nossa vida. Os filmes antigos se tornam um pouco documentários, porque mostram a cidade. Estou virando, cada vez mais, um ativista. Praticamente só saio de casa, para ir ao cinema, para ver cinema brasileiro.

CC: É mesmo?

JF:
É, porque com o dvd a gente pode ver tudo em casa, depois. Shrek eu vejo com a minha filha em casa.

CC: Isso é uma espécie de militância, não? E eu aproveito pra te perguntar: a política cinematográfica, que teve anos de agitação recentemente, não deu uma arrefecida?
JF:
Não sei direito. Teve aquela luta pela retomada, nos anos 90, depois teve a Ancinav ...Talvez tenha diminuído um pouco a articulação, mas isso também é normal. Não sei te dizer. Como sou muito mais um roteirista, vou escrevendo e, depois. vejo como consigo fazer o filme. Cada projeto tem o seu tamanho, o seu público. O mais difícil é convencer as pessoas a sair de casa para ver o filme.

CC: Até que, no seu caso, com GloboFilmes, Camila Pitanga e Wagner Moura, par da novela das 8, isso fica mais fácil, não?
JF:
Que sorte (risos). Mas foi tudo coincidência. Quando chamei os dois eu não podia sonhar que estariam na novela. Espero que ajude.

CC: Se você tivesse, hoje, que fazer um filme sem a GloboFilmes e a Columbia, você se sentiria com uma barquinho sozinho no oceano?
JF:
Nunca penso se vou fazer com a Columbia ou não sei quem. Eu escrevo. Agora, eu estou escrevendo três roteiros de longa-metragem. Mas eu não sei com quem vou fazer. Posso ir buscar dinheiro fora, por exemplo.

CC: Saneamento foi feito com verba dos editais públicos, da Petrobrás e do BNDES. Você é favorável à política de concursos públicos?
JF:
Acho que não há outra. Temos que decidir, no País, se queremos ter cultura ou não. O Collor decidiu que não. Se dissermos que sim, temos que perguntar como. Eu acho que só há um jeito possível, com concursos, que têm prazos e júris renováveis. Qual a outra saída? Entregar para o mercado? O mercado não vai produzir um documentário sobre o Nelson Freire, que foi um dos melhores filmes que eu já vi. O júri pode errar? Pode. Mas é mais qualificado que o diretor de marketing de uma empresa.

CC: No mês passado, você ganhou um processo contra a Veja, por calúnia e difamação. Com você define esse episódio?
JF:
Um dia, eu foi surpreendido por uma coluna extremamente ofensiva, baseada em mentiras, em fatos não reais, e fiz o que acho que qualquer pessoa deve fazer: fui para a justiça. Não respondi na hora porque não é esse o caso, eu não quero alimentar esse tipo de mídia. Entrei na Justiça e ganhei.

CC: Você foi vítima de quê? De patrulhamento ideológico?
JF:
Eu não sei qual foi a motivação. Era um negócio tão violento, mentiroso. Não se trata de opinião. Opinião é totalmente livre, as pessoas podem odiar meu filme. Aliás, no caso específico do Diogo Mainardi, eu conheço os filmes dele, e espero que ele odeie os meus.


Fonte:
CartaCapital


Crítica sobre Saneamento Básico no blogue portador de ausências

Confira abaixo O Sanduíche, curta-metragem dirigido por Jorge Furtado.

O Sanduíche

Sinopse
Os últimos momentos de um casal, a hora da separação. O fim de alguma coisa pode ser o começo de outra. Outro casal, os primeiros momentos, a hora da descoberta. Encontros, separações e um sanduíche. No cinema o sabor está nos olhos de quem vê.

Gênero Ficção
Diretor Jorge Furtado
Elenco Janaína Kramer, Felippe Monnaco, Nelson Diniz, Milene Zardo
Ano 2000
Duração 12 min
Cor
Colorido

Bitola 35mm
País Brasil (RS)


Ficha Técnica
Roteiro Jorge Furtado Fotografia Alex Sernambi Edição Giba Assis Brasil, Fábio Lobanowski Produção Débora Peters Direção de Arte Fiapo Barth Trilha original Léo Henkin Som Direto Cristiano Scherer, Luiz Adelmo

Prêmios
Melhor Ator no Brazilian Film Festival of Miami 2001
Melhor Atriz no Brazilian Film Festival of Miami 2001
Melhor Curta - Júri Popular no Brazilian Film Festival of Miami 2001
Melhor Fotografia no Brazilian Film Festival of Miami 2001
Melhor Filme no Cine Ceará 2001
Melhor Roteiro no Cine Ceará 2001
Melhor Montagem no Festival de Brasília 2000
Prêmio Especial do Júri no Festival de Gramado 2001
Melhor Roteiro no Festival imagem em 5 minutos 2001
Prêmio Especial no Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte 2001
Destaque do Júri Popular no Festival Internacional de Curtas de São Paulo 2001
Melhor Ator no Festival Latino de Campo Grande 2001
Melhor Curta de Ficção no Festival Latino de Campo Grande 2001
Melhor Diretor no Festival Latino de Campo Grande 2001
Melhor Roteiro no Festival Latino de Campo Grande 2001
Melhor Filme - Júri Oficial no Festival Luso-Brasileiro de Santa Maria da Feira 2001

domingo, 22 de julho de 2007

Aquarela, de Toquinho

Produzido pelo Laboratório de Desenhos para a Mundo da Criança, "Aquarela" é um clipe-animação para a canção homônima de Toquinho. A singeleza e ternura da animação garantiu ao tabalho um grande sucesso na interne te em mostras nacinoais e internacionais. Foi passado para 35mm e participou dos festivais de Gramado e de Recife. Na edição carioca do Animamundi 2003, ficou em segundo lugar na categoria animação infantil na escolha do júri popular. No mesmo ano, ganhou o "Liv Ullmann Peace Prize" atribuído pelo júri do "Chicago International Children's Film Festival", o maior e mais antigo festival de filmes infantis do mundo. "Para nós, mais do que um prêmio, o "Liv Ullman Peace Prize" é a confirmação de que é possível, em pleno século XXI, entreter e encantar as crianças sem usar violência. Ele prova que bom conteúdo se faz com vontade, perseverança e amor", disse um dos realizadores.

Aquarela

Se preferir, assista no sítio do Laboratório de Desenhos, clicando aqui.

sábado, 21 de julho de 2007

Freqüência Hanói

Sinopse
Em uma penitenciaria baiana um interno subjuga as grades e os muros que o isolam. Através da tecnologia sua voz ganha liberdade nas freqüências invisíveis da metrópole.

Assista Freqüência Hanói aqui
(necessita *Windows Media Player)

Ou assista abaixo no YouTube

Freqüência Hanói


Gênero Documentário
Diretor Daniel Lisboa / Diego Lisboa
Ano 2006
Duração 9’25’’
Cor Colorido
Bitola Mini DV
País Brasil

Ficha técnica
Direção Daniel Lisboa, Diego Lisboa Roteiro Daniel Lisboa Fotografia Daniel Lisboa, Diego Lisboa Edição Daniel Lisboa Produção Mauricio Fontoura

Festivais
13º Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá
Arraial Cinefest
Festival de Cinema de Vitória da Conquista
11° Festival Brasileiro de Cinema Universitário
13º Vitória Cine Vídeo
Mostra do Filme Livre

Prêmios
13º Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá
Arraial Cinefest
Menção Honrosa na Mostra do Filme Livre (MFL)



Comentário dos Realizadores
Ola meus caros,
O último trabalho da Cavalo do Cão Filmes, "Freqüência Hanói", está
entre os selecionados do FLUXUS.06 – Festival Internacional de Cinema
da Internet. A premiação é através de um júri on-line e do voto popular
no site. Por tanto, se gostarem do nosso doc-experimental, votem nele!
Valeu!



*O filme pode ser assistido com Media Player Classic, que, além de ser programa de código aberto, é muito menor que o Windows Media Payer. Também serve como player de DVD, suporta legendas AVI, formatos QuickTime, RealVideo, WMV, entre outros.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

O Cinema em Diversas Mídias

III SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE CINEMA E AUDIOVISUAL
O grão digital: estética e técnicas da transição

Cineastas debatem possibilidades do audiovisual em diversos tipos de mídias digitais e a convivência com a tradicional película. Qualidade, custos, portabilidade, vanguardas e tradição foram temas da última mesa do seminário.

Eduardo Carvalho

Na sexta e última mesa de debates do III Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual, que aconteceu em Salvador, entre 9 e 13 de julho, Marcus Bastos cineasta e professor da PUC – SP, a cineasta canadense Martine Chartrand, o cineasta pernambucano Cláudio Assis e o professor de cinema da Metodista – SP e coordenador da Casablanca Lab, José Augusto de Blasis, sob a mediação do professor André Lemos, da UFBA, reuniram-se para debater o tema “Imagem e Mídias Digitais”.

Martine, que trabalha com animação no sistema manual, artesanal, abriu o debate com o testemunho de sua produção e reconhecendo as vantagens da aplicação da informática em seu trabalho, constatando que o trabalho artístico não foi tão impactado, porém o trabalho técnico sofreu um processo de evolução muito grande.

Marcus Bastos, a seguir, combinou duas linhas em sua apresentação: um levantamento de possibilidades do audiovisual em diversos tipos de mídias digitais, principalmente, mídias portáteis como o celular e o ipod, que, ao se tornarem mais potentes, também se tornam instrumentos da produção e difusão de audiovisual, redesenhando sua gramática clássica. Na outra vertente, o professor da PUC – SP demonstrou a relação disso com uma produção independente que emerge no cenário artístico do audiovisual, como, por exemplo, a realização de documentários interativos ou de peças produzidas em rede.

No quesito portabilidade, Marcus Bastos ressaltou que o fato de os instrumentos estarem cada vez menores e mais fáceis de serem transportados acaba impactando a linguagem audiovisual e lembrou que, já na década de 70, o cineasta francês Jean-Luc Godard desenvolvia junto à Sony projetos para tornar as câmeras cada vez mais portáteis, pois acreditava que isso modificaria significativamente o tipo de cinema que ele tinha interesse em fazer. Alertou para as perspectivas de “ciborguização” do audiovisual, ou seja, da redução destes equipamentos a níveis que poderão colocá-los em simbiose com o próprio corpo humano. Isso impacta a linguagem, ao passo em que pode deslocar o ponto de vista do olhar para qualquer outra parte do corpo, como a mão, por exemplo. Bastos ainda salientou que o impacto da portabilidade dá-se, para além das novas explorações de linguagem na produção, nos hábitos de consumo das peças audiovisuais, que são reproduzidas em telas menores e também portáteis, numa situação de dispersão em que a contemplação é substituída pela fruição.

Outro aspecto que acompanha e impacta a produção com a utilização de mídias digitais é o relacionado a custos, pois os equipamentos são mais acessíveis, as equipes são menores, a edição é mais ágil e a finalização é mais barata. Isso pode levar um realizador a executar todas as etapas do processo, mudando o cenário de produção industrial, com equipes, para produções-solo, num processo de artesanato audiovisual, na qual o artista capta, edita, monta e distribui seu trabalho. A distribuição é exatamente o terceiro aspecto de facilitação da produção e circulação de audiovisual a partir do emprego de mídias digitais. Além de uma revitalização do movimento cineclubista, surgem novas possibilidades, mais versáteis, como a de usar a própria cidade, as fachadas dos prédios e casas, como suporte para a projeção de filmes. Além é claro, de fenômenos como o YouTube e o Fiz TV (leia mais), ainda que seja apenas um cabide de arquivos de vídeo, altera de forma radical a forma como são distribuídas as produções de audiovisual. Outro universo que se descortina é o de trabalho em rede, no qual realizadores de lugares distintos podem reunir-se pela internet para compartilhar a criação de uma peça audiovisual.

A audiovisualização é outra vertente que ilustra o impacto das mídias digitais. Este termo foi cunhado por Marcus Bastos para ilustrar o fenômeno relacionado com o crescimento de capacidade de transmissão de dados via internet, com alargamento da banda, trazendo cada vez mais imagens e áudios onde antes predominavam os textos. Isso traz um irremediável alargamento das possibilidades de distribuição e disseminação das obras para além dos circuitos tradicionais do audiovisual. A tridimensionalidade também é outro aspecto relevante se considerados fenômenos emergentes como o do Second Life e os dos próprios jogos que lidam com a construção de audiovisual em ambientes de realidade virtual. Por fim, a ubiqüidade que aponta como o vídeo se espalha pela cidade, sem focos de concentração, pelo contrário, com muita dispersão, em celulares, ipods e outros. Bastos ainda apontou trabalhos vanguardistas do setor que envolvem, por exemplo, mapeamento GPS e equipamentos para monitoramento de poluição atmosférica.

Abordando o tema “O grão digital: estética e técnicas da transição”, José Augusto de Blasis começou falando sobre produção, formação profissional e empregabilidade. Neste campo, segundo ele, houve uma sensível democratização no acesso aos meios de produção de audiovisual que saíram das mãos de uma elite muito restrita que produzia cinema e televisão. Lembrou, em seguida, a frustração da expectativa de grande ampliação do mercado produtor de audiovisual quando da introdução das TVs a cabo, cujo modelo não contempla a produção nacional e enfatizou que o modelo adotado para a TV digital deverá reproduzir o mesmo erro.

Demonstrou como a captação em película, a pós-produção e a exibição ótica, processos da clássica indústria do cinema, estão em transição para modelos digitais, notadamente no processo de pós-produção, com a substituição da montagem em hardware para a montagem em software, e a conseqüente substituição do acesso linear pelo randômico. Com este novo suporte de finalização, surgi, segundo Blasis, um novo código com grandes possibilidades criativas.

A seguir, focou o mercado de exibição hegemônico americano que vive um momento de transição radical, migrando do modelo de exibição ótica para o digital de alta performance. Discorreu também sobre a diversificação dos suportes de captação, principalmente sob o aspecto de apropriação, notadamente dos miniformatos, de produtos industriais lançados originariamente para o consumidor doméstico. Um processo histórico que começou já nos anos de 1920, com o lançamento da bitola de 9,5 mm e estendeu-se até o grande sucesso que foram os vídeos com fitas de carretel da década de 80, até chegar aos minihds que, hoje, possibilitam produção audiovisual com qualidade compatível àquela que o público está disposto a consumir fora dos mercados alternativos e salas especiais, ou seja, produtos audiovisuais com qualidade para exibição comercial. Por fim, fez uma prospecção das possibilidades de finalizações com a utilização de um mix entre os diversos modelos de película e os digitais.

Por fim, o cineasta Cláudio Assis, de Amarelo Manga e Baixio das Bestas, exibido na mostra do seminário, declarou-se um apaixonado pela película e um resistente à digitalização. Reconheceu a democratização que as mídias digitais trouxe, mas atacou a banalização do uso destes equipamentos, no sentido de que, por serem baratos, geram um desperdício imenso e uma deseducação do olhar, ao passo que hoje se filmam centenas de horas para editar um filme de poucos minutos. Segundo ele, ter uma câmera, ligá-la e registrar as imagens não é necessariamente fazer cinema.

Fonte:
CartaMaior

terça-feira, 17 de julho de 2007

Fourteen

Curta que faz pensar
Fourteen é um excelente curta-metragem estadunidense que perturba com sua estranha sutileza. A história se passa no dia em que uma menina completa 14 anos, fato que não parece empolgar ninguém da família. A diretora Nicole Barnette, extrai uma contida, porém, transtornante interpretação dos atores, que, sem fala alguma, extrapolam grande dramaticidade. Fourteen é uma instigante produção que comove e perturba.


Sinopse
Alguma coisa sobre o aniversário de 14 anos de Hannah parece não estar completamente certo neste tumultuado curta. Por que a expressão séria no rosto da mãe? O que tem o cara de terno branco? Exibido em importantes festivais como Sundance, SXSW e AFI, Fourteen assombrará seu cérebro por horas depois da cena final.

Fourteen


Gênero Ficção
Diretor Nicole Barnette
Elenco Laken Romine, Diana Gayl, Richard Burns,Kit Dennis,Larry Hanes,Garnet Jordon
Ano 2005
Duração 6'22''
Cor Colorido
País EUA

Ficha Técnica
Produção Tegan Jones Fotografia Alison Kelly Roteiro Renee Ridgeley Edição Jutta Reichardt Trilha original Zoe Poledouris -Roche

Festivais
Sundance Film Festival
SXSW
Nashville Film Festival
Seattle Film Festival
Nantucket Film Festival
True West Film Festival
Milwaukee Film Festival
New York Film Festival
Mill Valley Film Festival
AFI Fest
Starz Denver Film Festival
Cucalorus FIlm Festival
Stockholm Film Festival

As duas faces de Jean-Pierre Léaud

Calçada da Memória
por josé onofre

O ATOR DE TRUFFAUT E GODARD

Há dois Jean-Pierre Léaud: o esteta existencial, partejado e criado pelo diretor francês François Truffaut, e o militante de esquerda embalado por Jean-Luc Godard. A morte de Truffaut, em 1984, retira de cena o grande apaixonado, o homem que dedicou ao amor e seus desatinos a maioria dos filmes. Numa Paris comum, sem o glamour da versão de Hollywood, seu alter ego Antoine Doinel (Léaud) desfila as desilusões, a leviandade e a descoberta de que o amor supõe uma perda de liberdade.

Em Beijos Proibidos (lançado em DVD pela Versátil), de 1968, percorre as ruas de uma Paris não turística, na imensa tarefa de mentir e ludibriar para manter o amor e viver a liberdade. Um ano antes, esse mesmo Jean-Pierre Léaud lia trechos de literatura revolucionária em A Chinesa, de Godard. A vivacidade, os enganos e as derrotas da juventude eram de Truffaut. A frieza, o orgulho e a dureza do militante eram de Godard. Com Truffaut, Jean-Pierre Léaud (que estreou menino, em Os Incompreendidos, também disponível em DVD) era espontâneo, engraçado, crédulo, astuto e tolo ao mesmo tempo. Godard lhe arrancava outro homem de dentro, um tipo rígido, o sacerdote fanático da nova fé, rosto seco, gestos mecânicos.

Entre os dois dividiu a cabeça e o coração. Respeitava e admirava Godard, mas amava Truffaut. Quando este morreu, encarou a dor e a depressão e, quando voltou a trabalhar, era o rígido ator de Godard e não mais o alegre e encantador ator que fizera Antoine Doinel. Foi abandonado novamente quando Godard deixou de lado o cinema de propaganda revolucionária e aderiu cada vez mais à vanguarda. Léaud continuou no trajeto de revolução e de um cinema marginal. Aos 20 anos era o rosto de uma revolução possível. Aos 60, o rosto marcado parece ter chegado a um ponto inflexível: a revolução morreu, mas ainda é o que nos resta. É tarde para voltar à juventude. Seu rosto é a imagem da desolação diante de um mundo que não fala mais em revolução.


Novo Filme de Jorge Furtado

A GENTE NÃO QUER SÓ COMIDA
por Ana Paula Sousa

Saneamento Básico, o Filme faz jus ao que a publicidade apregoará: “Não perca”. O novo trabalho de Jorge Furtado, o diretor do curta Ilha das Flores e de longas-metragens como O Homem Que Copiava, é engraçado como poucos títulos brasileiros recentes têm conseguido ser. De quebra, faz uma charmosa defesa do cinema nacional que, aqui e acolá, é tratado como algo menor, quando não inútil.

Furtado, escritor hábil, roteirista da TV Globo, manipula as fragilidades do próprio ofício para, não sem contradição, valorizá-lo. A história, que ele define mais como “declaração de amor ao cinema” do que como “crítica ao sistema de produção”, encerra uma trapalhada tipicamente nativa.

Uma família de colonos italianos, na serra gaúcha, anda às voltas com um projeto de saneamento básico para a comunidade. Mas a prefeitura não tem um tostão para a obra. Uma funcionária lembra, porém, que há em caixa uma verba do Ministério da Cultura, fruto de um concurso para vídeos feitos em cidades de até 20 mil habitantes. Como o filho do prefeito desistiu do filme, a família, capitaneada pela personagem de Fernanda Torres, decide pegar o dinheiro, engendrar um vídeo e, com o troco, levar a cabo a obra.

Saneamento Básico nos mostra a realização do filmete que colocará em cena mocinha (Camila Pitanga), monstro (Wagner Moura), mocinho (Bruno Garcia) e cientista sabichão (Paulo José). Acompanharemos as tentativas de descobrir um gênero (eles apostam que toda ficção é científica), a escritura do roteiro sem pé nem cabeça, o merchandising patético e os efeitos especiais inventados com produtos saídos das gôndolas do mercado.

Em tom brincalhão e despretensioso, Furtado mostra o que é fazer cinema e, a despeito do final apaziguador, age politicamente. É claro que o Brasil precisa de saneamento básico. Mas isso não quer dizer que não precise de cultura.

Fonte: CartaCapital

Trailer

Saneamento Básico - Trailer

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Mais informações do III Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual

MinC equaciona projeto de pólo nacional de audiovisual na Bahia

Mudanças nas estruturas históricas do audiovisual no âmbito estadual e o conjunto dos esforços federais para a criação de um pólo nacional de audiovisual na Bahia são as temas centrais do último dia de debates do III Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual.

Eduardo Carvalho

A mesa matinal do último dia de debates do III Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual, neste dia 11, teve o jornalista e crítico João Carlos Sampaio como mediador. Ele abriu os trabalhos com a paráfrase de Cazuza feita por Edgard Navarro na tarde anterior: “meus heróis morreram de overdose e meus “amigos” estão no poder”. O artíficio não só serviu para passar um polido verniz no incidente da tarde anterior (leia mais), como para indagar aos tais “amigos” do Navarro quais as políticas públicas que estão sendo realizadas e para onde elas levam o audiovisual brasileiro.

As autoridades presentes responderam. Não por serem “amigos”, mas por estarem empenhados na construção de políticas públicas para o audiovisual com conseqüente geração de desenvolvimento econômico e social, propondo e operando mudanças nas estruturas históricas do audiovisual no âmbito estadual e empenhando um complexo conjunto de esforços federais para a criação de um pólo nacional de audiovisual na Bahia, com aporte de R$ 100 milhões por ano.

Para indicar os fatos e argumentos desta complexa resposta aos “amigos” Navarros e outros tantos da imensa, presente, atuante e entusiasmada comunidade cinematográfica baiana, estavam à mesa três cineastas da terra: Pola Ribeiro, que atualmente é diretor do Instituto de Radiodifusão da Bahia (IRDEB), José Araripe Jr., diretor do Ctav-MinC e Orlando Senna, Secretário do Audiovisual do MinC. Leopoldo Nunes, diretor da Ancine, não compareceu e foi substituído pelo cineasta paraense Sérgio Pêlo.

Pola Ribeiro evocou, de saída para o painel mais bem articulado do seminário, o cenário de carências do cinema para ressaltar que se trata de uma atividade de alma e de sobrevivência e que não se pode pensar em cinema e audiovisual com ojeriza à condicionante realidade econômica ou com ojeriza à inevitável evolução da tecnologia e sua conseqüente diversificação dos equipamentos e suportes.

Cineasta à frente do IRDEB, Pola experimenta, na prática, a busca de linhas de confluência entre cinema e televisão, que, em sua opinião, nasceram e ainda vivem apartados no Brasil. Reafirmou, ainda, a necessidade de agregar, neste esforço de convergência, todas as formas de produção audiovisual. Seu esforço porém, descreve ele, esbarra em históricas dificuldades institucionais. São tentaivas de trazer o cinema para próximo da TV, situá-lo numa área de cobranças imediatas, de produção 24 horas no ar, que gera audiência e sobrevivência, comunicação e informação. Em contrapartida, trazer para a televisão conceitos e linguagens que o cinema desenvolveu e oferece. Um esforço para qualificar mais a televisão e dinamizar o cinema.

O cineasta baiano também tocou o cerne da questão do poder ao afirmar que, estando em suas malhas, constata sua verdadeira essência ao verificar que, embora se conquistem quinhões aqui e ali, o verdadeiro poder continua emanando do desejo de elites que conduzem a economia, o mercado, e que precisam entender, assim como parte do próprio conjunto de dirigentes instituídos no poder oficial, inclusive colegas de governo, que o cinema é fundamental para a consolidação de um pensamento, de uma história e de um sentimento baiano de cidadania que, ao mesmo tempo, gera recursos econômicos dentro de uma rica cadeia produtiva do complexo audiovisual, agregando o trabalho de administradores, contadores, advogados, historiadores, sociólogos, antropólogos, gestores públicos e privados, músicos, escritores, cenógrafos, maquiadores, motoristas…

Salientou, assim, a necessidade de reconhecimento da complexidade desta cadeia e maior aceitação de suas contingências econômicas, para conseguir juntar a verve criativa baiana com uma capacidade gestora e produtiva a ser fortificada e desenvolvida no estado com a criação de cursos de cinema na UFBA e na do Recôncavo, com o trabalho junto aos Pontos de Cultura do Programa Cultura Viva e junto aos Cineclubes, com a diversificação dos objetos dos editais públicos, com o esforço para dar visibilidade à produção de audiovisual baiano. Por fim, anunciou um plano urdido no Fórum de TVs Públicas que prevê que R$ 50 mil em mídia nas Rádios e na TVs públicas de quatro estados (BA, MG, SE e PA), totalizando R$ 200 mil por projeto, fortifiquem a garantia de divulgação e de conseqüente distribuição eficiente em praças pré-estimuladas a assisti-lo, aumentando, assim, as chances de tais projetos serem contemplados em editais de fomento e potencializando sua capacidade de captação.

José Araripe Jr. apresentou o Centro Técnico do Audiovisual - Ctav-MinC, do qual é diretor e que nasceu, há 25 anos, do lado não comercial da Embrafilme com a missão primeira de aprimorar o som do cinema nacional, apoiar a formação e especialização profissional e também para o desenvolvimento do cinema de animação. De lá, para cá, o espectro de atendimento a todo o Brasil ampliou-se muito e abrange, hoje, várias ações ligadas à formação, memória, difusão e ao fomento de produção.

Depois de opor-se à posição do crítico André Setaro na querela da tarde de ontem, Araripe deu seu depoimento que inventariou o desenvolvimento recente de toda teia produtiva do cinema na Bahia - onde, lembrou Orlando Senna, pela primeira vez na História, estão sendo rodados cinco longas-metragens simultaneamente -, e exaltou as possibilidades que o associativismo oferece nesta área.

Depois, Araripe apresentou o projeto da Programadora Brasil que ilustra um trabalho do Ctav com a Cinemateca Brasileira que recebeu, nos últimos cinco anos, recursos inéditos e abriga hoje, em seu acervo, mais de 50 mil cópias de filmes. A Programadora Brasil é um projeto de difusão para tonificar o circuito cineclubista que busca a criação de salas de exibição alternativas àquelas que atendem ao cinema hegemônico americano, para exibir filmes hoje confinados às prateleiras, num esforço de formação de platéia e de pensamento crítico, com 126 títulos disponíveis em DVDs para serem exibidos em salas não comerciais credenciadas no projeto, como alguns Pontos de Cultura, por exemplo. Não há assistencialismo, mas um arranjo bem feito que possibilita remunerar direitos autorais, custos de cópias e envio e oferecer o direito de exibição contínuo do conjunto completo dos filmes, por dois anos, a uma taxa de R$ 600, com suporte de comunicação, com revista e site. Em 90 dias de operação, já associou mais de 100 salas em 21 estados e já existe um convênio com o SESC que elevará este número a 300. A meta é chegar a 2 mil pontos de exibição, alentando mais de 500 “filmes sem tela” que serão tirados das prateleiras para serem exibidos gratuitamente aos que não teriam acesso a eles.

Orlando Senna, Secretário do Audiovisual do MinC, marcou sua intenção de falar sobre perspectivas para o audiovisual na Bahia e no Brasil sob um ângulo oficial e baiano, contextualizando sua fala no espectro da constatação de que nunca houve em toda a história da Bahia, até 2003, políticas públicas de audiovisual, ainda que se possa reconhecer alguns surtos de política públicas cinematográficas no Brasil, como a Embrafilme, que gerou muitos proveitos, mas que se restringia ao âmbito estrito do cinema e não à totalidade do audiovisual. Lembrou ainda que a Bahia está há poucos meses com um novo governo, de quem se espera um grande impulso na área a partir do estreitamento já anunciado da relação do estado com as políticas federais.

O secretário evocou a força econômica mundial do setor que coloca o audiovisual no topo das projeções governamentais e privadas que prevêem o desenvolvimento futuro. Neste cenário, lembrou da existência de uma série de providências já em curso para a criação de uma indústria e de uma cultura fortes de audiovisual no Brasil, no continente e no mundo, articuladas na forma de uma série de providências e de mecanismos que podem, na somatória de seus esforços, desenhar um conjunto de políticas públicas para interferir no imenso universo tentacular do audiovisual. Destacou seis pontos deste conjunto: o esforço para que esta atividade seja uma prioridade do Estado em nível estratégico, pensando-se, em última análise, na soberania nacional; que, nela, seja dado o mesmo nível de importância para a produção a cultura e a formação - e neste item lembrou-se do nascimento, durante sua palestra no seminário do ano passado, da proposta para a criação de uma escola de cinema na UFBA (leia mais) e de outra privada já em funcionamento -; a internacionalização da atividade e do pensamento audiovisual; foco na difusão e na televisão; a prática do capitalismo democrático com cobertura nacional e, por fim, o conceito da abrangência, que envolve, entre outras questões, a disseminação dos suportes.

Por fim, valendo-se ainda de dados panorâmicos do recente crescimento do cinema nacional, completou a justificativa da proposta da criação de um pólo nacional de produção audiovisual na Bahia, com investimento anual de R$ 100 milhões (80% do Governo do Estado, 10% da Petrobras e 10% do MinC) e evocou o empenho dos seus colegas governantes nos âmbitos estadual e federal para a concretização desta proposta do MinC que, segundo seu raciocínio, permitirá fortalecer significativamente a economia local ao mesmo tempo que criará a base para a revitalização de um cinema tipicamente baiano, calcado em sua tradição e nos trilhos de suas novas e velhas vanguardas, com forte identidade regional, para ser um cinema de alcance global.


Fonte: CartaMaior

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Documentário Sabotage

Postagem originalmente publicada no blogue Música&Poesia

No dia 24 de janeiro de 2003 uma das mais promissoras carreiras do rap nacional chegava ao fim. O rapper Mauro Mateus dos Santos, o Sabotage, foi executado com quatro tiros pelas costas. Silenciava-se a voz daquele que levou a periferia as telas de cinema. Pouco tempo após lançar seu primeiro disco (Rap É Compromisso - 2001) Sabotage figurava entre os melhores rappers do Brasil.

Sua inventividade o fez quebrar diversas barreiras, não só musicais, onde foi respeitado por músicos de outros gêneros, chegando a gravar com alguns, mas, artísticas também. Sua agilidade expressiva não demorou a chamar a atenção do diretor de cinema, Beto Brant, que o chamou para o filme O Invasor, no qual, além de atuar, ajudou a reescrever parte do roteiro, a pedido de Brant, para que O Invasor ganhasse o jeito de falar da periferia. O rapper também assinou boa parte das músicas da trilha sonora do filme. Após repercutir positivamente no longa de Brant, Hector Babenco o escalou para atuar no premiado Carandiru.
Sabotage (à esq.) durante a filmagem do documentário

Sabotage esteve também em um terceiro filme. Infelizmente, desse ele não teve conhecimento, pois, foi lançado para homenageá-lo após sua morte. O Música&Poesia apresenta o documentário Sabotage, dirigido por Ivan Vale Ferreira, Tiago Bambini e Pedro Caldas. Com imagens captadas em 2002, a obra dá uma noção do turbilhão de idéias que movimentavam o artista, mostrando sua ligação com a comunidade, família e com arte como forma de contestação e mudança.
Y.H.

Obs.: Infelizmente, com o fim do Google Vídeos, aonde originalmente o documentário estava hospedado, diversos vídeos se perderam, inclusive, este filme do Sabotage. Na ausência de uma fonte melhor, abaixo disponho uma cópia que tem qualidade de imagem bem inferior ao original, porém, acredito que é melhor do que ficar sem este que parece-me ser o primeiro registro documental do grande rapper Sabotage. Caso alguém conheça uma fonte com melhor qualidade, favor entrar em contato. 


Documentário - Sabotage



Sinopse
Suas palavras e sua maneira de pensar foi registrada e isso fica. Ele se foi, mas sua mensagem ainda continua muito presente.

Gênero Documentário
Diretor Ivan Vale Ferreira / Tiago Bambini / Pedro Caldas
Elenco Sabotage
Ano 2004
Duração 29 min
Cor Colorido
Bitola Vídeo
País Brasil

Na página do Google Vídeos pode-se baixar o filme completo, no entanto, para tal, deve-se baixar e instalar o programa de vídeos do Google.

Fotos: Ivan Vale Ferreira/Divulgação

Fonte: Música&PoesiaBRasileira

terça-feira, 10 de julho de 2007

Suprematist Kapital

Símbolos e ícones fundem-se freneticamente na animação Suprematist Kapital e sugerem significados aos problemas contemporâneos.

Suprematist Kapital

Sinopse
Uma história simbólica do Capital ocidental em 5 minutos.

Gênero Animação
Diretor Yin-Ju Chen / James T. Hong
Ano 2006
Duração 5 min
Cor Colorido
Bitola Vídeo
País EUA


Discussão entre ética e estética no cinema no primeiro dia de Seminário

Mimmo Calopresti
III SEMINÁRIO INT. DE CINEMA E AUDIOVISUAL
Narrativa, poética, estética e política abrem os debates

Com destaque para a antecipação da palestra do cineasta italiano Mimmo Calopresti, o primeiro dia do seminário discutiu a relação entre ética e estética no cinema.

Eduardo Carvalho

SALVADOR - O III Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual, que acontece até o dia 14 em Salvador, teve início na manhã desta segunda-feira, 9 de julho, no Teatro Castro Alves. Na abertura, o público foi saudado por um vídeo com Naomar de Almeida Filho, reitor da Universidade Federal da Bahia - UFBA, realizadora do evento; seguido dos secretários estaduais, Márcio Meirelles, da cultura e Domingos Leonelli Netto, do Turismo, e por Walter Lima, idealizador e realizador do Seminário.

Da grande tela, para a mesa no palco, a coordenação do trabalho matinal ficou por conta do doutor em Antropologia e Pró-reitor de Extensão da UFBA, Ordep Serra. Na mesa “A narrativa: de Griffth a Godard”, à composição previamente anunciada, somou-se o nome do diretor italiano Mimmo Calopresti, que falaria na terça, mas, por ter que antecipar seu retorno à Itália, abriu o seminário já revelando suas tintas políticas. Não por menos: o cineasta nascido no sul da Itália, veio à Bahia apresentar seu mais recente filme, exibido em Cannes em 2006, mas ainda inédito por aqui: Volevo solo vivere, um longa-metragem que documenta as vidas dos italianos que foram aos campos de concentração durante o regime de extermínio fascista italiano. Entrevistas com sobreviventes intercalam-se com imagens de arquivo que Spielberg, produtor do filme, coleciona desde antes de A Lista de Schindler.

Mimmo destacou que mergulhar no arquivo de imagens da fundação mantida por Spielberg e assistir às mais de 400 entrevistas, das quais nove foram selecionadas, aprofundadas e refilmadas pelo diretor, permitiu-lhe testemunhar, resgatar e sedimentar a memória de um episódio indelével da história da humanidade. Volevo solo vivere é o mais aguardado documentário da mostra do seminário.

Depois do diretor italiano, na mesa inteiramente estrangeira, reuniram-se Massimo Canevacci (La Sapienza de Roma), Michel Marie (Sorbonne) e o cineasta espanhol Fernando Trueba, Oscar de melhor filme estrangeiro de 93 com Sedução, para discutirem o desenvolvimento da linguagem cinematográfica, suas transformações e a evolução da técnica e da estética que conduziram ao expressionismo e à montagem-narrativa inaugurada por Welles até a desconstrução da estrutura da linguagem narrativa proposta por Godard.

Na mesa da tarde, prevaleceu o elenco feminino e nacional. Mediados pela professora Eneida Leal Cunha (UFBA), Claude Murcia (Sorbonne), Olgária Matos (USP), Ivana Bentes (UFRJ) e o cineasta chileno Miguel Littin debateram “Poética, estética e política do filme”. A francesa apresentou seu estudo sobre a estética de Robert Bresson, Olgária reafirmou a importância da escola de Frankfurt para o debate, escolhendo trechos de Benjamin que ilustraram a cisão entre o objeto e sua representação na sociedade do espetáculo, Ivana, sempre preocupada em traçar paralelos com a abordagem dada pela imprensa ao tema, discorreu sobre a questão plural e multifacetada da violência no cinema e Littin, que já brilhara na edição passada do seminário (leia aqui), justapôs à discussão acadêmica seu emocionado e emocionante relato digressivo sobre a realidade do cinema latino-americano.

Fonte: CartaMaior


Copyleft

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Janela Aberta

Do mesmo diretor de Palíndromo, Philippe Barcinski, apresenta Janela Aberta, outro de seus premiados curtas. Se em Palíndromo, Barcinski, conta uma história de trás pra frente, em Janela Aberta a narrativa é toda desconstruída através da confusão mental do personagem protagonista, vivido pelo excelente Enrique Diaz.
Y.H.

"Nem os mais cabeçudos resistem aos premiados curtas quebra-cabeça de Philippe Barcinski, o mais talentoso discípulo de Fernando Meirelles."
Porta Curtas


Assista Janela Aberta aqui
em Windows Media Player

Sinopse
Um homem tenta lembrar se fechou uma janela. A Jornada de um simples fato em uma mente turbulenta.

Gênero Ficção
Diretor Philippe Barcinski
Elenco Enrique Diaz, Eugênio Puppo
Ano 2002
Duração 10 min
Cor Colorido
Bitola 35mm
País Brasil


Janela Aberta


Ficha Técnica
Produção Andrea Barata Ribeiro, Bel Berlinck, Claudia Buschel Fotografia Adrian Teijido Roteiro Philippe Barcinski Edição Philippe Barcinski Som Direto Ferdanda Ramos Direção de Arte Fredeico Pinto Trilha original Antônio Pinto Empresa produtora O2 Filmes Edição de som Beto Ferraz, Armando Torres Jr. Direção de produção Paulo Boccato Produção Executiva Andrea Barata Ribeiro, Bel Berlinck, Claudia Buschel Categoria Premiére

Prêmios
Melhor Curta no Chicago International Film Festival 2003
Melhor Montagem no FAM - Florianópolis Audiovisual Mercosul 2003
Melhor Montagem no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro 2002

Festivais
Edinburgh Intl.Fest. 2003
Festival do Rio BR 2003
Uppsala International Short Film Festival 2003
Athens International Film Festival/EUA 2003
Calgary International Film Festival 2003
Festival de Cannes 2002
Festival de Cinema de Huesca 2003
Festival do Rio 2003
Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte 2003
Festival Internacional de Curtas de São Paulo 2002
Manchester International Short Film Festival 2003
Mostra BR de Cinema de São Paulo 2003
Mostra de Cinema de Tiradentes 2002
Ismailia International Festival for Documentary & Short Films 2003

Fonte: PortaCurtas

Atrações Internacionais em Seminário sobre Cinema na Bahia

Começam em Salvador os debates, a mostra e a feira de distribuidores

Seminário reúne atrações internacionais como o cubano Fernando Trueba, o historiador, escritor e cineasta paquistanês Tariq Ali e o cineasta italiano Mimmo Calopresti.

por Eduardo Carvalho

SALVADOR - O III Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual acontece entre os dias 9 e 14 de julho, no Teatro Castro Alves, em Salvador, e promove mostra com filmes inéditos no Brasil, debates com estudiosos brasileiros e internacionais e um encontro de negócios para a distribuição de filmes.

Idealizador e coordenador do Seminário Internacional de Cinema desde março de 2005, Walter Pinto Lima realiza, por meio de sua produtora, VPC Cinemavídeo, a terceira edição do Seminário, em parceria com a Universidade Federal da Bahia. Convicto de que um dos caminhos para a formação de platéias e profissionais passa pelo debate e pelo aprofundamento das discussões, Walter Lima acredita que "É importante refletir sobre o cinema, especialmente hoje em dia, em que a sétima arte sofre uma carência de ideologia, tanto de quem produz quanto de quem consome".

Uma das faces mais aguardadas do III Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual é a realização das mesas redondas e debates, envolvendo cineastas e teóricos, jornalistas e produtores. Nesta terceira edição, o tema central será “Poéticas e Políticas no Cinema Contemporâneo”, e seis eixos serão explorados. Um deles aborda a linguagem cinematográfica, discutida em “A Narrativa: de Griffth a Godard”, com a participação do cineasta Fernando Trueba - vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro com Sedução. O outro eixo de discussão é “Poética, Estética e Política do Filme”, no qual teóricos de universidades do Brasil, como Olgária Matos (USP) e Ivana Bentes (UFRJ) e do exterior (Miguel Littin) tratarão da importância do cinema na percepção humana. Importante destaque será a mesa “Cinema Político Contemporâneo”, que trará diferentes perspectivas políticas e de crítica social presentes no cinema hoje, e contará com a participação de Tariq Ali, historiador, escritor e cineasta paquistanês e do cineasta italiano Mimmo Calopresti. Por fim, mais duas mesas trarão a discussão para um âmbito mais local. “Cinema Baiano: Ontem e Hoje”, que terá, entre outros, o cineasta baiano Edgard Navarro e “Perspectivas para o audiovisual na Bahia e no Brasil”, para a qual estão sendo aguardados Leopoldo Nunes (diretor da ANCINE) e Orlando Senna (Secretário do Audiovisual do MinC). Para fechar o ciclo de discussões, a mesa “Imagem e Mídias Digitais” contará com a participação de Cláudio Assis, que também exibirá na mostra o seu longa inédito Baixio das Bestas.

Com jeito de festival, a mostra de filmes contará também com a projeção de outros longas e curtas-metragens nacionais e internacionais, inéditos na Bahia e no Brasil, entre eles Juventude em Marcha de Pedro Costa; Volevo solo vivere, de Mimmo Calopresti; Joy soy la Juani, de Bigas Luna; Santiago, de João Moreira Sales e A scanner darkly, de Richard Linklater.

Nos dias 12 e 13 de julho, no Hotel da Bahia, acontece o II Encontro de Produtores e Distribuidores, que é a parcela do evento direcionada para o mercado cinematográfico, buscando criar um ambiente propício para novos negócios audiovisuais. Ainda no Hotel da Bahia, o Seminário vai abrigar o I Encontro Locações Bahia, e o lançamento do Bahia Film Commission para discutir as perspectivas da indústria audiovisual e do turismo.

(*) Esta reportagem cobrirá a íntegra do Seminário a convite da organização do evento.

Fonte: CartaMaior


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