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sábado, 27 de junho de 2020

Estreia DOC LGBTQI+

Documentário doc
Neste sábado (27/06), às 19h, estreia o documentário As Cores do Divino no canal do YouTube da distribuidora Embaúba Filmes. O doc registra histórias de membros da comunidade LGBTQI+ que integram alguma instituição religiosa. Acompanhe abaixo informações de como assistir o filme de graça.

#Repost @embaubafilmes
🗓 Contagem regressiva para a pré-estreia do novo lançamento da Embaúba!

“As Cores do Divino” 🌈 terá uma exibição ao vivo no nosso canal do Youtube no dia 27/06 (sábado) às 19h, seguida de um debate com alguns integrantes da equipe e personagens do filme.

🎥 O filme ficará disponível gratuitamente por duas semanas no site da Embaúba a partir do dia 28/06, dia oficial do Orgulho LGBT+

🏳️‍🌈 LINK: bit.ly/YoutubeEmbauba

Ative o lembrete no vídeo do Youtube pra não esquecer!
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segunda-feira, 10 de junho de 2019

Netflix divulga trailer de filme sobre colapso da democracia brasileira

Longa "Democracia em Vertigem", de Petra Costa, elogiado no exterior, estreia na Netflix dia 19. "Democracia aparentemente estável pode cair no caos"

Publicado por Redação RBA

'Um documentário absolutamente vital', classificou o The New York Times
São Paulo – A gigante do streaming de filmes e séries Netflix anunciou o lançamento do documentário Democracia em Vertigem, da cineasta brasileira Petra Costa, no próximo dia 19. O longa retrata como o sistema político brasileiro entrou em colapso após o golpe contra Dilma Rousseff (PT), em 2016, culminando, no ano passado, na eleição de um governo de extrema-direita com Jair Bolsonaro (PSL).

Após sua estreia no Festival de Sundance (leia cardápio do site do festival, em inglês), nos Estados Unidos, o jornal The New York Times teceu elogios sobre o longa. “Um documentário absolutamente vital (…) Petra usa seu filme para explicar a história complicada do Brasil e avisar que mesmo uma democracia aparentemente estável e próspera pode cair no caos em instantes”, disse o crítico Noel Murray. Já a revista Variety posicionou a cineasta em uma lista de “10 documentaristas para assistir em 2019”.

A crítica mais chocante veio do portal também norte-americano Indie Wire: “Uma visão assustadoramente pessoal sobre o início de uma ditadura de extrema-direita”. Petra Costa aproveitou o envolvimento de sua família com setores políticos para aprofundar as relações de poder em sua obra. O acesso a este mundo garante uma visão pessoal para explorar a crise política instalada no país.

O tom pessoal aparece já no trailer divulgado hoje. “Eu e a democracia brasileira temos quase a mesma idade. Eu achava que nos nossos 30 e poucos anos, estaríamos pisando em terra firme. Eu tinha 19 anos quando o Lula foi eleito. Me lembro da euforia. Parecia um grande passo para a nossa democracia. Milhões de pessoas saíram da pobreza, a taxa de desemprego atingiu o menor índice da história e o Brasil emerge como um dos protagonistas no cenário mundial”, afirma a cineasta.

Entretanto, algo mudou neste caminho. “Todos nós seremos julgados pela história”, afirma a primeira presidenta da história do Brasil, Dilma Rousseff. Petra segue: “Algo no nosso tecido social começa a mudar. O país se divide e esse muro da lugar a um abismo”. 

domingo, 9 de junho de 2019

Marguerite Duras e a espera

Filme baseado nos diários da escritora francesa mescla memória e invenção sobre o amor e a guerra

Por Carlos Alberto Mattos



A maestria de Marguerite Duras em criar um distanciamento literário entre fatos e seu relato passa a salvo do livro para o filme Memórias da Dor (La Douleur). Ao voltar-se para seus diários da época da II Guerra, quando seu marido Robert Antelme, líder da Resistência francesa, era preso e deportado para um campo de concentração na Alemanha, Marguerite reexamina a si mesma, sua consciência ética e afetiva.

Assim como o livro de Duras não se prendia ao autobiográfico, o filme de Emmanuel Finkiel se abre para a invenção ficcional. A narrativa se divide claramente em duas partes. Na primeira, em ritmo de thriller, a escritora estabelece uma relação ambígua com Rabier, o agente da Gestapo que havia detido Robert. Enquanto tenta usar essa aproximação para proteger e saber do marido, ela evita ser usada em troca como informante. Percebe-se que esses episódios são bastante romanceados e até mesmo inverossímeis, mas isso importa menos, já que o foco está, desde então, na subjetividade de Marguerite.



A segunda metade do filme inclina-se para uma fenomenologia da espera. Paris é liberada, a guerra encaminha-se para o seu final, e Robert não retorna. Marguerite se transporta para um mundo de suposições e angústias, cercada que está por outras mulheres à espera do retorno de seus entes queridos. A partir de certo ponto, o que interessa observar é o que essa expectativa sempre adiada pode produzir na sensibilidade de quem espera.

Embora conte com uma reconstituição de época eficiente e pontual, Emmanuel Finkiel trabalha basicamente com uma dramática da pouca profundidade de campo, fazendo com que o mundo objetivo perca o foco em benefício das figuras em primeiro plano. Assim ele enfatiza a maneira como Marguerite apreende o mundo de maneira subjetiva e interrogativa em função de seu diário/romance. O texto, com suas habituais repetições e circularidades, é uma espécie de segunda pele com que ela se veste para melhor resistir à dor.

O diretor Emmanuel Finkiel foi assistente de direção do polonês Krzysztof Kieslowski na trilogia “Azul, Branco e Vermelho”. Herdou alguma coisa do estilo do mestre num expressionismo suave, em que a realidade exterior rebate no interior das pessoas. No elenco conduzido com austeridade destaca-se naturalmente a atriz Mélanie Thierry, um rosto relativamente enigmático que tanto revela quanto oculta as transformações interiores de sua personagem.

Fonte: Carta Maior

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Conheça o representante brasileiro no Oscar 2015

"Hoje Eu Quero Voltar Sozinho" é o representante brasileiro no Oscar 2015

Por Assessoria de Comunicação do Ministério da Cultura

filme nacional, longa brasileiro
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho é o escolhido pra lutar por uma vaga na categoria de filme estrangeiro do Oscar
O Ministério da Cultura (MinC) divulgou, nesta quinta-feira (18/9), na Cinemateca Brasileira, em São Paulo (SP), que "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho", do diretor Daniel Ribeiro, concorrerá a uma vaga na categoria de melhor filme estrangeiro no Oscar 2015. O filme, escolhido entre 18 títulos nacionais, foi selecionado por uma comissão especial formada por cinco membros especialistas na área. A 87ª cerimônia do prêmio está marcada para 22 de fevereiro, em Los Angeles, Estados Unidos.

O anúncio foi feito pela ministra da Cultura, Marta Suplicy, logo após a reunião da comissão especial. Foram responsáveis pela escolha o diretor, produtor e roteirista Jeferson De; o jornalista Luis Erlanger, a coordenadora-geral de Desenvolvimento Sustentável do Audiovisual da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, Sylvia Regina Bahiense Naves; o presidente do conselho da Televisão América Latina (TAL), Orlando de Salles Senna e o ministro do Departamento Cultural do Ministério das Relações Exteriores, George Torquato Firmeza.

Marta Suplicy afirmou que o filme selecionado pode fazer história para o país. "A obra eleita nos oferece uma história original, roteiro bem defendido, com linguagem universal e é também uma obra de alta sensibilidade, que aborda a temática adolescente em situações extremas", afirmou. "Fico feliz com essa seleção, nos tira de situações com cara de Brasil, tem uma linguagem universal, com uma história que pode ocorrer em qualquer país, em qualquer lugar", completou a ministra.
O secretário do audiovisual do Ministério da Cultura, Mario Borgneth, também estava presente na solenidade. "As 18 obras que concorreram para representar o Brasil no Oscar espelham a intensidade e diversidade da atual produção do audiovisual brasileiro", disse.

O filme selecionado, o primeiro longa-metragem do diretor Daniel Ribeiro, narra a historia de um adolescente cego e homossexual que tenta lidar com a superproteção da mãe e sua busca pela independência. O cotidiano do jovem muda com a chegada de Gabriel, que o ajuda a descobrir mais sobre si mesmo e sua sexualidade.

Se o "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho" for indicado na categoria, será a quinta vez que o Brasil concorrerá ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Em 1963, foi o "O pagador de promessas" ; em 1994, "O Quatrilho"; em 1998 "O que é isso companheiro?" e, em 1999, "Central do Brasil"

Sucesso

No quesito audiovisual, o Brasil tem muito a comemorar. Com 129 longas-metragens, 2013 teve recorde histórico de lançamentos nacionais desde a retomada do cinema na década de 1990. Neste ano, até 27 de agosto, o número de filmes produzidos no Brasil chegou a 66.

Além de maior produção, o setor audiovisual brasileiro também cresceu em público e em faturamento de bilheteria. Ao todo, o mercado brasileiro de salas de exibição teve, naquele ano, 149,5 milhões de ingressos vendidos e renda de mais de R$ 1,7 bilhão. Os números representam alta em relação a 2012, quando foram registrados 146,4 milhões de espectadores e R$ 1,6 bilhão de renda.

A participação de público dos filmes nacionais em 2013 foi de 18,6%. O percentual também representa um acréscimo em relação a 2012. No ano passado, 10 filmes brasileiros ultrapassaram a marca de 1 milhão de bilhetes vendidos e 24 tiveram mais de 100 mil espectadores. No ano retrasado, apenas 17 obras ultrapassaram esta marca.

Veja os 18 títulos que concorreram à vaga na categoria de melhor filme estrangeiro no Oscar 2015.
  • A Grande Vitória, do diretor Stefano Capuzzi 
  • A Oeste do Fim do Mundo, do diretor Paulo Nascimento 
  • Amazônia, de Thierry Ragobert 
  • Dominguinhos, de Eduardo Nazarian, Joaquim Castro e Mariana Aydar 
  • Entre Nós, de Paulo Morelli 
  • Exercício do Caos, de Frederico Machado 
  • Getúlio,de João jardim 
  • Hoje eu quero voltar sozinho, de Daniel Ribeiro 
  • Jogo de Xadrez, Luís Antônio Pereira 
  • Minhocas, de Paolo Conti e Arthur Nunes 
  • Não pare na pista: a melhor historia de Paulo Coelho, de Daniel Augusto 
  • O Homem das Multidões, de Marcelo Gomes e Cao Guimarães 
  • O Lobo atrás da Porta, de Fernando Coimbra 
  • O menino e o mundo, de Alê Abreu 
  • O menino do espelho, de Guilherme Fiúza Zenha 
  • Praia do Futuro, de Karim Aïnouz 
  • Serra Pelada, de Heitor Dhalia 
  • Tatuagem, de Hilton Lacerda 

Fonte: Ministério da Cultura


Hoje Eu Quero Voltar Sozinho - Trailer oficial

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Chávez e líderes sul-americanos em próximo filme de Oliver Stone

Filme retrata Chávez e líderes da esquerda na América do Sul
por Michelle Amaral da Silva

Do cineasta Oliver Stone, a obra será focada na Revolução Bolivariana e na ascensão de políticos sul-americanos de esquerdas nos últimos anos

12/12/2008

Vermelho

O cineasta Oliver Stone — que acaba de estrear W, seu "bioépico" sobre o presidente George W. Bush — vai produzir agora um documentário sobre o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Segundo anunciou o próprio diretor norte-americano, o filme tem exatamente como tema "Hugo Chávez e a revolução sul-americana".

Em dezembro de 2007, para iniciar as filmagens desse documentário, Stone viajou à Venezuela. Ele passou alguns dias por Caracas, onde conheceu Chávez pessoalmente. Na época, o venezuelano se ocupava da mediação com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) para obter a libertação de Ingrid Betancourt e outros reféns.

A revista Variety informa que o documentário de Stone não enfocará a operação de resgate em si — mas “a oposição enfrentada por Chávez em seu país e no exterior, principalmente pelo governo Bush”. Segundo a publicação, a Casa Branca “foi muito clara em seu desgosto pelo socialismo populista”, encarnado pelo presidente venezuelano.

"A notícia do documentário mais recente de Stone foi divulgada quando o diretor viajava ao Oriente Médio para apresentar W, na noite da abertura do Festival de Cinema de Dubai", destacou a Variety. Stone lembrou que sua nova obra se focará no líder da Revolução Bolivariana — mas também na ascensão de outros políticos sul-americanos de esquerda nos últimos anos.

"É sobre Chávez e a renovação na América do Sul", afirmou Stone, que já trabalhou durante seis meses no projeto. A produção, segundo o cineasta, deve ficar pronta no fim de 2009.

Ele confirmou que está trabalhando em um segundo documentário, mas não deu detalhes a respeito. Contudo, desmentiu que essa segunda produção gire em torno do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad. Alguns boatos recentes contavam que Ahmadinejad tinha permitido que Stone entrasse no país e documentasse sua situação.

Entre os filmes produzidos por Stone está Comandante, de 2004, que partiu de uma entrevista de 30 horas concedida ao diretor pelo então presidente de Cuba, Fidel Castro. Já Persona non grata — que começou como um projeto sobre o chefe palestino Yasser Arafat — tornou-se uma produção mais ampla sobre o conflito árabe-israelense.

O cineasta também já assinou filmes sobre John F.Kennedy e Richard Nixon, além dos premiados Platoon e Nascido em 4 de Julho — ambos sobre a Guerra do Vietnã e seus impactos. Em W., seu filme mais recente, Stone faz a cinebiografia de Bush protagonizada por Josh Brolin (de Onde os Fracos Não Têm Vez).

Fonte:
BrasildeFato

W. - Trailer

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O cinema como uma arma para a nação indígena

Reprodução da entrevista publicada na revista Caros Amigos (edição 140) com Marcos Bechis, diretor do filme Terra Vermelha, que trata sobre a luta dos índios kaiowas para reconquistar seu espaço.

TERRA VERMELHA

Eterna pauta dos movimentos sociais, a questão da terra indígena volta à tona através do filme Terra Vermelha, dirigido pelo cineasta chileno Marco Bechis. Uma co-produção Brasil-Itália que estréia nos cinemas brasileiros no dia 29 de novembro.

Exibido na 32ª Mostra de Cinema de São Paulo, o filme aborda a luta dos índios kaiowas, para reconquistar espaços ocupados pelo agronegócio, além da expansão de usinas de álcool, que, na opinião do roteirista Luis Bolognesi, “é um epicentro do terremoto do apocalipse”.

Além de Bechis e Bolognesi, Caros Amigos conversou com o indigenista e advogado Nereu Schneider, além de integrantes da tribo guarani-kaiowa que participaram das gravações: Ambrósio, Eliane, Alicélia e Ademilson.

Recebidos com entusiasmo no Festival de Veneza, os índios impressionam com sua serenidade e sinceridade ao falar de sua luta. Mesmo após horas de entrevistas (Caros Amigos foi recebida ao final da tarde, após outros veículos), eles ainda tinham paciência para dar sua versão da história e comentar sobre a importância em participar do filme.


Confira a entrevista e depois vá ver o filme!

Felipe Larsen: Como surgiu a idéia de fazer o filme, abordando esse tema?

Marco Bechis: A questão do outro, que é fundamental em todo o mundo. Todas as civilizações que perderam a curiosidade pelos outros morreram. Estou falando das civilizações antigas. E a questão do outro, na América Latina, é o indígena, e no Brasil, também os negros que vieram da África. Eu sou sul-americano, morei no Chile, na Argentina e no Brasil também. Quando era menino, sempre fiquei pensando quem era essa gente. Eu via nas cidades, nas metrópoles, nos bairros, e qual era a história deles, a história que eles viveram. A escola não falava disso.

Felipe Larsen: Tal como no Brasil, a história manipulada...

Bechis: Começava em 1500, com Cabral. Eu queria fazer uma coisa nova. Queria encontrar um caminho especial. Fui buscando até que encontrei os kaiowas.

A seleção de elenco foi muito simples. Nós fizemos base na cidade de Dourados. Tínhamos dúvidas se fazíamos o filme lá, mais perto dos atores, porque eles falavam “lá é o centro do conflito. Como você vai fazer o filme lá?” Eu falei: “não vou fazer o filme no estado de São Paulo, com atores com cara de indígenas. Isso não interessa, vou fazer outro filme, então. Uma história de aventura. Para fazer o que eu quero fazer, é com eles”. Também pensei em fazer o filme na Argentina, também tem guarani, e não kaiowa. Mas era outro contexto, outra história, e complicava muito. Então, depois de pensar muito, chegamos à conclusão de que era possível em Dourados. Lá decidimos fazer um estudo de logística. Eu não queria que os atores desarraigados de suas casas por todo o tempo do filme. Eu queria que eles voltassem para casa... Então a seleção foi feita com base em critérios subjetivos, naturalmente, mas também em função da vontade deles de fazer o filme. A vontade deles era em alguns mais forte que outros.

Ambrósio: Porque isso é uma arma. Sempre repito para vários jornalistas. Hoje está havendo índio no filme, no cinema. É uma arma que nós não sabemos usar, então pedimos ajuda. Podemos usar as nossas armas. Sempre temos armas. E todo mundo tá ficando de cabeça erguida. Aqui no Brasil, a admiração deles, a primeira coisa que eles me perguntam, por que a gente sai daqui, lá para o outro lado do rio. Eu falei “Do outro lado do rio tem a pessoa que mostra o pau e a cobra. Que serpente que matou, que serpente que é. E o pau também, que pau que é, se é cabo de vassoura” Então, onde é que tá a arma? Nós usamos, tiramos debaixo do tapete, botamos em cima da mesa o que está claro hoje. Não sei se eu respondi, mas...Só isso.

Felipe Larsen: Agora, a questão dos fazendeiros, que em meio ao set de filmagem ficavam ali, meio ressabiados. Em nenhum momento passou pela cabeça de vocês que não seria uma boa idéia participar do filme? Em algum momento vocês tiveram receio em participar por causa do ambiente?

Ambrósio: É o que eu retorno a dizer. Eu to colocando uma touca na cabeça do fazendeiro agora. Vai aprender por ali. Porque não sou eu, não é o Marco, não é o Luis, e isso que nós estamos chegando aqui nesse momento, essas ferramentas estão na mão, mas essas ferramentas que ele tem que enxergar. O fazendeiro vai fazer porque é muito ignorante. Você sabe que hora de morte ninguém vê, ninguém avisa. Quando é morte é morte. Mas pelo contrário ele tem que entender. Ele não é daquelas pessoas burocráticas? É claro que ele tem que entender. Porque se ele for fazer aquilo... Índio, pra dizer que ele tem medo, se o índio tivesse medo vivia na cidade... Porque o índio no mato, ele entra na noite, passa que nem bicho, sem medo nenhum e atravessa pro outro lado. Você sabe que tem bicho no mato. E nem você mexe, nem o bicho. Agora vai ter medo de um ser humano por ser humano? Se fosse dos ancestrais, mas hoje?!

Fernando Lavieri: Ambrósio, comenta aquela cena da terra.

Ambrósio: É porque o branco fala coisas de setenta anos atrás. E o índio é da terra, a terra é do índio. A terra é um alimento. Porque o índio, quando vai dormir, não escolhe lugar nenhum. Agora veja um doutor: pega um barro no sapato, ele vai tirar o sapato, manda lavar e anda descalço dentro da casa. Então quer dizer que ele não gosta da terra. Como é que ele vai dizer que a terra é dele? Eu falo minha terra porque é como é. Essa é minha terra. Agora um empresário, tem milhões de terras. Ele tá vivendo no que é dos outros. Tá usando o que é prato do índio, e vivendo na sombra do índio, porque é o índio que tem a riqueza. Minérios, rio, floresta, tudo. E ainda o índio é discriminado. Esse é o problema.

Sobre a questão da aculturação dos índios na atualidade Bechis corta logo a idéia comum que passa pela nossa cabeça:

Bechis: Se o branco muda seus costumes, isso não implica uma modificação da própria identidade. Ficamos sendo brancos de São Paulo. Agora, se o índio modifica algum de seus hábitos, a primeira coisa que nós dizemos é dizer que ele está perdendo a sua cultura. Eu acho isso errado. Eu fiz esse filme com eles porque eu os conheci e entendi que eles eram os índios que estavam precisando fazer esse filme. São índios verdadeiros, mesmo que não se vistam com as plumas. É o nosso imaginário National Geographic que nos leva a imaginá-los com plumas. Além disso, tem a questão antropológica. Na nossa cabeça, a evolução é só nossa. A única evolução que nós somos capazes de compreender é a evolução técnica. A nossa evolução é passar do cavalo ao carro, do carro ao avião, do avião ao edifício, e agora a bomba atômica e blábláblá. Mas tem outra evolução: do pensamento, das maneiras. Como imaginar uma comunidade indígena que nunca teve contato com brancos, e passou mil anos em total isolamento, e sai da floresta com arco e flecha, não são os mesmo de mil anos atrás. Ninguém pode dizer que isso é a mesma coisa. Então estamos errando nosso juízo sobre eles. Então a aculturação, que é uma termologia que eu contesto, é uma terminologia ambígua, acho que seria mais interessante buscar uma nova definição da identidade indígena hoje no Brasil, mas também na literatura. E acho que o indígena tem todo o direito de se sentir indígena, de manter sua identidade, mesmo utilizando as brincadeiras dos brancos, o celular, o carro, a motocicleta. Ele não vai deixar de ser índio. Por exemplo, as cabanas, mesmo com materiais que são diferentes dos originais, têm a mesma estrutura de sempre. Você vê que tem um momento em que cortam uma madeira e faz a forma da casinha. Ou seja, é uma estrutura cultural que se mantém. A casa, a reza. Quando falamos com eles sobre nhanderú, eles falaram “não, há rezas que não podemos falar”. E então, qual a solução? Vamos inventar rezas. Vamos fazer rezas diferentes que não são aquelas. Então tudo isso está repetindo a todo tempo. Eles têm os seus instrumentos culturais, a sua visão de mundo, além da aparência que pode ser mais ou menos moderna.

E completa explicando sua relação com a Funai na produção do filme:

Bechis: Eu não queria entrar, fazer um filme em uma área indígena, justamente para não ter que lidar com a burocracia da Funai. A Funai naturalmente foi informada, e também ajudou de algum jeito com logística, carros, mas não tivemos uma relação de dependência.
Nereu Schneider: Desde o início a Funai é sabedora do projeto, assim como os kaiowas, que foram os primeiros, porque é com eles que foi feita a história. No momento que eles falaram “nós queremos fazer isso”, como ele mesmo diz, uma arma, aí a gente também foi nos órgãos do governo que ajudaram nesse sentido. Mas não é uma visão “só se faz se o governo permitir”. Mas teve intensa parceria, não só com a Funai, mas a prefeitura de Dourados. Não foi feito às escondidas. Nem dos fazendeiros da região. Ninguém fez nada por debaixo do pano. Sobretudo com eles (os índios).

Fernando Lavieri: Dá pra projetar algum tipo de mudança na vida dos índios?

Ambrósio: Para os kaiowas, hoje pode ajudar, mas muitos caminhos podem ajudar. O que? Os jovens, as empresas também têm que ter respeito por esse lado. Levam para trabalhar os meninos indígenas para o canavial, que voltam sem nada. A parte da justiça também vai ter que respeitar. Não pegar mais a s crianças indígenas, e abandonar pra lá. Você sabe que isso acontece muito no Mato Grosso do Sul. Devolve as crianças pra o pai, pra mãe, pra isso tem a Funai, tem o cacique. Vai ter que devolver tudo que foi levado. E aprender a deixar a porta aberta, pra qualquer um de nós que chegar poder entrar. Então esse cinema representa o que pode ajudar nesse direito, e a justiça também. Porque eu sempre falo: o pobre, sempre anda embaixo da mesa. E hoje essa mesa...Ou racha, ou queima ou joga. Essa é a ajuda do filme que eu to vendo. Os guaranis-kaiowas, eles tratam do jeito que querem. E aí vai parar no que? Vai parar no suicídio. E tem muita discussão da parte da justiça. Eu estive em Caiapó por causa do meu filho, sabe? Cheguei falei diretamente para o juiz. Um dia, não sei quando, eu vou procurar de onde o juiz traz essa burocracia. Se tratar a gente aqui atrás, aí nós vamos descobrir mais ainda. A justiça enxerga só o do outro, mas o deles ela não ta vendo. Eu acredito em mim, porque onde eu vou, eu passo. Não vou e volto pela porta da cozinha, não. Entro pela porta da frente e saio pela porta da frente. Eu sempre tive esse sonho, e eu espero que se dê essa oportunidade para as famílias indígenas.

Felipe Larsen: O que vocês acham da Funai?

Ambrósio: Eu tenho certeza que ela ta esperando um bom resultado, é uma arma que vai estar na mão também. Com certeza vão saber usar muito bem, para as famílias.

Felipe Larsen: E dentro dos guaranis-kaiowas, como vocês lidam com a questão do fazendeiro chegar chamando os índios para trabalhar nas usinas?
Ambrósio: Dez, vinte por cento é puxa saco dos fazendeiros de lá. Dentro das aldeias, enquanto trabalham na usina, fica mulher sem mercadoria, criança sem assistência. Quando volta de lá pra cá, pergunta se o marido tem alguns reais pra comprar alguma coisa. Tem pra comprar pra uns, mas pra outros não tem. E isso, essa matança, é boa pra eles. Então, não é que ele entra lá e contrata. Ele põe um funcionário lá, pra contratar os parentes, e tirar de lá pouco a pouco.

Felipe Larsen: Tá um pouco cedo, o que vocês acham da repercussão na imprensa?

Bolognesi: Olha, a repercussão que teve na Europa foi muito forte. O filme foi destacado com um dos melhores do festival de Veneza, e saiu nos jornais do mundo inteiro. Saiu no Japão, Estados Unidos, Inglaterra, Espanha. Matérias sobre o filme, e das que eu li, todas positivas. E no Brasil tá começando agora, na mostra, que vai ter o lançamento, vi só Estadão e Folha, numa cobertura bastante interessante. O importante é a gente conseguir fazer a cobertura sair do caderno de cultura para que ela figure no caderno de política. Porque é a hora da onça beber água. O STF vai ter que se manifestar nos próximos seis, oito meses, no caso da Raposa Serra do Sol, e dos pataxós da Bahia. São decisões que quase criam jurisprudência. O que nada mais é do que respeitar a constituição, porque a constituição no Brasil já decidiu isso. A questão das terras indígenas já foi discutida em 88. A Assembléia Constituinte, instância máxima da lei no Brasil, do estado de direito, já se reuniu e disse que a terra é deles e que nada pode ser feito sem o consentimento deles. Então esse negócio que aconteceu agora, que os índios quebraram o pátio de uma usina hidrelétrica e jogaram fogo nos caminhões, que alguns jornais deram como um bando de arruaceiros...Dentro da terra indígena, o estado de direito diz que eles têm razão. Começaram a construir um pátio sem o consentimento deles, isso é ilegal! Se a lei está do lado deles, por que não se cumpre a lei? Eles têm que ir lá e tocar fogo no caminhão pra exigir isso. Então, nesse momento histórico que a gente ta vivendo, 500 anos de história estão nas mãos do STF. O primeiro relator do caso Raposa Serra do Sol, o primeiro juiz que leu todos os autos, foi favorável aos índios. O que ele disse deixou todo mundo – o capital, os fazendeiros, todo mundo ali na hora “que é isso? Chega no STF, que é o lugar da gente liquidar a fatura, vem aqui um juiz e diz ‘estamos aqui para fazer valer a lei. A constituição é clara’. Isso aqui é uma terra indígena, não se discute. Todos os autos comprovam que é uma terra indígena”. Então se trata de uma invasão. Quando ele falou isso, o outro falou “quero rever os autos, pára o julgamento”. Que decisão os caras do STF vão ter diante dessa questão? A lei é clara! Agora, na hora que ele dá isso, a tensão surge. É quase uma coisa inédita, você ter uma instância da justiça fazendo valer a lei a favor dos indígenas. Então a gente está num momento muito importante. Vê o lado deles. Porque a antropóloga que fez um debate com a gente outro dia, ela falou uma coisa. Num debate de um canal rural, ela estava num programa que podia fazer perguntas por telefone e veio a seguinte pergunta: mas índio é gente? Ela ficou em estado choque com a pergunta. Então o filme ainda tem a importância de colocar não só a questão política, mas de você conhecer a condição que eles vivem, as dificuldades. Humanizar. Porque não é só a elite. A própria classe média baixa é muito preconceituosa. É um contato que precisa reverter essa imagem desse preconceito muito grande que se construiu no Brasil.

Felipe Larsen: Você falou desse preconceito meio generalizado até mesmo na classe média. No exterior, como o pessoal vê essa questão da América Latina?

Bolognesi: São super solidários, majoritariamente. Pra eles é fácil, porque nós aqui no Brasil estamos diretamente ligados. Dar terra significa botar eles ali. Para os europeus é uma coisa super distante, e é evidente que qualquer pessoa que olha a coisa de longe, é evidente que a terra é dos índios. A pressão de lá de fora é totalmente a favor das terras indígenas, e isso gera pressão ao governo brasileiro, tratando dessa maneira, expõe. Que país é esse? Mas eles têm aliados muito forte lá fora, uma série de entidades, só que estão longe, né? No dia a dia...

Felipe Larsen: Eu acho que já deu tempo dos fazendeiros ficarem sabendo que foi rodado um filme. Falando o português claro, já teve alguma encheção de saco?

Schneider: Por um lado sim. “Mais um filme, mais gente falando”. Mas o que eu percebo também é que o filme repercutiu bem, indo ao festival de Veneza, e até na região lá também. No começo “um filme sobre índios do Brasil”. Depois, kaiowas. Opa! Um filme sobre índios de Dourados. Então você percebe que é uma reação na minha maneira de ver. Então eles estão vendo que ta vindo uma onda aí. Antes você tinha perguntado se os índios tiveram medo. Mas acho que não, quem teve mais medo foi o outro lado.

Felipe Larsen: Dá um freio nos fazendeiros?

Schneider: Eu acredito que sim. O filme é importante pra mostrar o drama que tá aí. O que eu vejo é que não é todo dia que se faz um filme, longa metragem, e eles são os protagonistas. O filme mostra o drama de uma relação.

Participaram da entrevista diversos jornalistas, da Caros Amigos foram Felipe Larsen, Fernando Lavieri e Lucas Bueno (Fotografia).

Fonte:
CarosAmigos


Terra Vermelha - trailer

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Trailer do Documentário Brega S/A

Trailer do filme Brega S/A já está na internet
DJ Juninho no comando da aparelhagem Superpop
Gravado entre os anos de 2006 e 2008, com recursos próprios e sem o auxílio de leis de incentivo e renúncia fiscal, o documentário Brega S/A fala sobre a cena tecnobrega de Belém do Pará. Feito por artistas pobres, gravado em estúdios de fundo de quintal e com relações profundas com a pirataria e a informalidade, o tecnobrega é a trilha sonora da periferia da cidade, uma espécie de adaptação digital da música romântica dos anos 70 e 80.

No filme vemos qual a relação entre o tecnobrega e a popularização da tecnologia a partir do final da década de 90, bem como a maneira como esse estilo musical se associou à pirataria para criar uma rede de distribuição alternativa ao modelo proposto pelas grandes gravadoras.

Entre os principais personagens estão o MC de tecnobrega Marcos
Maderito, o "Garoto Alucinado", inventor do 'eletromelody' e que
afirma manter contato com os espíritos de Cazuza e Renato Russo; DJ Maluquinho, uma espécie de Iggy Pop brega da periferia de Belém que jamais lançou um disco por uma gravadora e fatura milhares de reais por mês; e os DJs Dinho, Ellysson e Juninho, ídolos das aparelhagens, enormes sistemas de som que realizam festas itinerantes pelos bairros mais pobres da cidade.

Brega S/A - Trailer

Brega S/A - ficha técnica:

Direção, roteiro e edição: Vladimir Cunha e Gustavo Godinho
Direção de fotografia: Gustavo Godinho
Produção executiva: Priscilla Brasil
Produção: Teo Mesquita
Assistente de direção: Rafael Guedes
Auxiliar de produção: Carlos Lobo e Bruno Régis
Som direto: Fábio Carvalho
Uma produção Greenvision Filmes

Fonte:
Overmundo

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Garage - O Mito do Homem Bom

Garage: o mito do homem bom
Filme irlandês premiado em Cannes traça, delicado e flertando com o humor negro, o retrato de um ser solitário, que não tem idéias próprias nem opiniões divergentes. Alguém tão puro que não encontrou seu lugar na sociedade

por Bruno Carmelo para o Diplô
Garage: Josie (Pat Shortt) - foto divulgação
Mais do que a história de um evento, o filme irlandês Garage, premiado em Cannes, conta a história de um homem só: trata-se de Josie, que trabalha no posto de gasolina de uma cidade minúscula, na Irlanda. Ele é um sujeito limítrofe, de pensamento e gestos lentos; e estranha incapacidade de enxergar maldade ou malícia no mundo em torno de si.

Há várias maneiras de refletir sobre esse personagem fantástico, primeiramente em seu caráter invisível. Josie é o homem que está sempre lá, trabalhando, sorrindo e respondendo educamente às perguntas que lhe fazem. Ele não tem idéias próprias nem opiniões divergentes. Na cidadezinha em questão, ele faz parte da paisagem; e sua presença física se incorpora às bombas de gasolina e aos cabos do posto. Nesse sentido, o filme lhe rende justiça, ao pôr em evidência os excluídos e vingar os sujeitos que não ganham nossa atenção quando andamos pela rua.

Josie é também o retrato do homem solitário. Ele é cercado de conhecidos, mas não mantém relações próximas com nenhum deles. Ele não tem esposa, nem filhos. Somente um irmão distante é citado ao longo de toda a narrativa. Uma cena é exemplar: ele é procurado por um senhor viúvo para conversar. Esse outro solitário, que só quer alguém que o escute, vê em Josie uma figura equivalente. Mesmo o garoto que Josie é incumbido de treinar representa o nerd — excluído do grupo de adolescentes da sua idade. Juntos, pintam um painel do homem triste e marginalizado.

Por fim, Josie encarna o homem que não conhece as regras sociais. Ele não sabe como se portar em sociedade, como fazer amigos, como se impor. Além disso, ele não percebe o grande desprezo que os moradores da cidade têm por ele. Josie é constantemente comparado às crianças ou, mais especificamente, animais (não seriam justamente a moral e as regras de convívio social que nos difeririam dos seres irracionais?). Nosso protagonista cultiva uma interessante relação de igualdade com um cavalo, e a humanidade de Josie é mesmo posta à prova no momento em que testemunha a morte cruel de alguns filhotes de cachorro. Influenciado pelo discurso pseudo-coerente do homem que os atira no rio, Josie convence-se e volta para casa, sem arrependimentos por não ter intervindo na cena.


Desconforto na sala: rir de Josie, um sujeito tão isento de responsabilidade, é como debochar das limitações impostas a alguém

Garage é um drama que flerta discretamente com o humor negro. Isso porque muitas das risadas evocadas pelo filme são involuntárias, vêm da seriedade e da inocência do protagonista. Foi interessante notar, dentro da sala de cinema, uma série de risos desconfortáveis, como se fosse desrespeitoso rir de um sujeito tão isento de responsabilidade por seus atos. Rir de Josie é como rir de um deficiente físico, ou seja, como debochar das limitações impostas a alguém; algo que nossos sensos sociais nos interditam.

Mas tal desconforto é inevitável, já que o filme destina-se justamente a expor esse homem, fechado em si mesmo, ao mundo exterior. Como Kaspar Hauser, que saía de seu cativeiro sem nunca ter visto outros homens; ou ainda como a pobre Justine de Sade, que acreditava no bem e era constantemente violada por todos em seu caminho, Josie vai pagar muito caro por sua inocência.

Garage reserva um final soberbo a seu anti-herói: culpado de não se inserir na sociedade, ele é literalmente devolvido à natureza, como seu amigo cavalo que ganha a liberdade e mesmo como os filhotes de cachorro jogados no rio. Seu exílio (ou morte simbólica) lhe confere um caráter lendário, folclórico; de alguém tão puro que não encontrou seu lugar no meio dos homens.

Garage (2007)
Filme irlandês de Lenny Abrahamson.
Com Pat Shortt, Conor Ryan, Anne-Marie Duff.
Duração de 1h30.


Fonte: LeMondeDiplomatique

Garage - trailer (em inglês)

sábado, 22 de dezembro de 2007

Traficante Playboy, Tema de Filme Nacional

O tráfico está aqui, no asfalto
Meu nome não é Johnny filma a classe média carioca

por Ana Paula Sousa

Selton Mello é João Estrela, jovem que leva drogas para a Europa e vive entre farras com a namorada
Em Bicho de Sete Cabeças (2001), vimos o pai que dá cabo aos sonhos do filho por causa da maconha. Em Cidade de Deus (2002), acompanhamos o tráfico que ceifa vidas pobres e negras. Este ano, Tropa de Elite pretendeu mostrar que os estudantes da PUC, ao fumar um baseado, adquirem parcela de culpa pela violência no Brasil. No dia 4 de janeiro, chega aos cinemas a droga que percorre ruas arborizadas, entra nas festas “descoladas” e mexe no bolso dos ricos e remediados.

Meu Nome Não É Johnny, só por isso, mereceria ser visto. O filme que refaz a história de João Guilherme Estrela, playboy tornado traficante no meio “bacana” carioca, percorre, com originalidade, o circuito das drogas encampado pelo cinema brasileiro nestes anos 2000. Pode ter escorregões melodramáticos (como as justificativas rasas para o vício e o idealismo da “volta por cima”), mas é verdadeiro no que mostra. E na maneira como mostra.

“A história do Johnny é a história do asfalto”, define a produtora e co-roteirista Mariza Leão, que passou na frente de outros oito produtores interessados no livro homônimo, escrito por Guilherme Fiúza. “A tradição do Cinema Novo deixou uma marca na nossa produção, que é a de falar sempre do outro. Acho que este filme faz cada um de nós, gente de cinema, jornalistas, pensar em como estamos lidando com o problema das drogas dentro das nossas casas. Temos uma classe média cada vez mais transgressora.”

Por essas e outras, Meu Nome Não É Johnny perturba. Interpretado por um Selton Mello na medida, João é o jovem que vê nas drogas sua diversão e seu modo de ganhar dinheiro – por mais que o filme, no final, o exima de qualquer vocação mercenária. João é também a face oculta de uma classe social que convive com as drogas e prefere não pensar de onde ela vem. “Temos que falar disso sem hipocrisia. Apontar culpados é fácil. Mas ninguém é culpado sozinho, nem o cara do morro nem a classe média. O filme vai esquentar essa discussão”, aposta Estrela.

Filmado em ritmo jovial por Mauro Lima, diretor de videoclipes e de Tainá 2, Meu Nome Não É Johnny é entretenimento de qualidade. A inevitável simpatia pelo protagonista, se moralmente pode ser discutida, em termos cinematográficos é um acerto. Dos diálogos divertidos ao elenco que funciona de ponta a ponta, o filme é eficaz e, mesmo nas falhas, abre caminho para uma discussão e tanto.



Meu Nome não é Johnny - Trailer

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Crítica sobre Mutum

O escritor Jeová Santana escreveu sobre o filme Mutum, de Sandra Kogut, para o saite de literatura e arte Cronópios.

Triste, denso e belo
por Jeová Santana


Este ano saí de casa para ver, duas vezes cada, três filmes brasileiros: “Os Dozes Trabalhos” (Ricardo Elias), “O Cheiro do Ralo” (Heitor Dhalia) e “Mutum” (Sandra Kogut). Este, o mais recente, apresenta algumas voltagens emotivas que ainda repercutem e guiam o correr dessas linhas marcadamente impressionistas. Tal escolha não se deve, em princípio, à afinidade com Paulo Emílio Sales Gomes (1916-1977), ensaísta, cinéfilo e contista tardio, cuja obra vem sendo reeditada com o cuidado editorial à altura de seu legado. O autor de “Três Mulheres de Três PPPÊS” afirmou que o filme brasileiro, mesmo ruim (o que não é o caso dos que citei), teria sempre algo a dizer sobre nós, daí preferi-lo a qualquer um feito nos Estados Unidos. Pinçada assim, sem referências contextuais, tal reflexão pode despertar, de saída, alguns pruridos ufanistas, mas sabemos que a produção da (ainda) chamada Sétima Arte em terras americanas, não existe somente na linha de montagem de Hollywood, cujo selo final é impresso todo ano naquela patacoada chamada Oscar. A parcela lá produzida que fica fora do chamado “circuitão” é do conhecimento de poucas retinas.

Talvez minha opção pelo produto nacional se deva, de inicio, a recusa à “estética da ligeireza”, marca registrada nas terras de Spielberg & Cia, ao qual já me deixa cansado antes da hora. Qualquer coisa na linha “300” ou “Máquina mortífera” embaralha-me as vistas e não saio do meu recanto sacrossanto para seu ninguém. Nesse sentido, também não me animei a encarar o tiroteio e o corre-corre de “Tropa de Elite”.

Para quem está acostumado com esse tipo opção artístitca, dará nos nervos passar 95 minutos, vendo a leitura que a diretora Sandra Kogut, a roteirista Ana Luiza Martins Costa, o fotógrafo Mauro Pinheiro Jr., o sonoplasta Márcio Câmara, entre outros, fizeram para “Miguilim”, que integra o livro “Campo Geral”, de Guimarães Rosa (1908-1967). O primeiro incômodo vem pelos olhos. Pois os acostumados a viver cercado de prédios por todos os lados, o que torna a palavra “horizonte” apenas um verbete nos dicionários, estranha se vê frente a frente com tanto descampado, logo depois de se sentir na garupa do cavalo que conduz o menino Thiago e seu tio Terez de volta para casa.

O segundo fica por conta da audição, pois depois do trote e do resfolegar, o espectador convive com a profusão de sons de todos os tipos: chuva, vento, raios, trovões, pingueiras, insetos, passos, gemidos, água de rio, bater de portas e janelas, passarinhos, milho de pipoca espocando, aboios, latidos. É uma sinfonia que desestabiliza ouvidos acostumados ao ramerrão dos canos de escapamento e dos bate-estacas. Como contraponto à longa enfiera de ruídos, vem outra gastura diante de várias cenas em que o silêncio se impõe: carinho entre mãe e filho (num close de alta sensibilidade), o enquadramento da casa, a mãe refletindo, a avó Izidra sentada na cama depois de arrumar os trens do neto morto.

Paralelo ao ritmo sonoro, a narrativa vai sendo conduzida com a apresentação de um mote aparentemente parco: um triângulo amoroso, cujo desfecho, pelas leis num tempo e espaço no qual imperam macheza e brutalidade, só pode se encaminhar para a tragédia. Mas, aí, para contrabalançar a crise iminente, o narrador insere o menino Thiago, que será o responsável para prolongar ou interromper a trama, pois fica no fogo-cruzado entre o suposto envolvimento da mãe com o tio. Este, ao contrário do pai, que o cala, ora não respondendo suas perguntas, ora descendo-lhe a mão sem dó nem piedade, é só carinho e não o acusa de “querer ser diferente”.

O ponto culminante da tensão construída com sutileza está na cena em que o sobrinho devolve ao tio o bilhete que deveria ter sido entregue à mãe. O choro com que expõe seu fracasso é um desses momentos sublimes da arte. Sentir-se tocado por ela é saber que ainda temos umas réstias de humanidade correndo nas veias. Efeito que se torna mais luminoso quando se sabe a origem amadora da maioria do elenco, com exceção do ator que faz o pai (João Miguel, de “Cinema, Aspirinas e Urubus”, 2005). Bastaria este choro para dar a dimensão da leveza e da segurança na condução da narrativa. Ele inclusive poderia evitar a proximidade do foco nas lágrimas de Thiago quando perde o irmão Felipe. Ali elas são previsíveis. A câmera poderia ter ficado mais distante, tal como no momento em que o pai espanca a mãe, e ficamos a par da acusação, dos sons dos tapas e objetos caindo, tudo pela visão do menino. Longe, portanto, do excesso naturalista que fez escola no cinema brasileiro.

Transpor Guimarães para outras mídias é sempre um desafio, pois é preciso privilegiar o diálogo em detrimento da conhecida exuberância verbal e dos contorcionismos lingüísticos de seus narradores. Além disso, é preciso lembrar, no caso de cinema e teatro, da exigüidade do tempo, que é bem mais farto quando nos propomos a encarar as centenas de veredas criadas pelo homem nascido em Cordisburgo (MG) há quase cem anos. Por isso, há de se louvar a opção da diretora em não cair nessa esparrela e utilizar-se de um argumento básico: cinema é imagem. Sendo assim, ela optou pela contenção discursiva, com as falas entrando em momentos muito específicos, permitindo com que seus atores também as substituíssem pelo gestual. O ronco-gemido de Felipe, pouco antes de morrer, é apenas um dos muitos exemplos em que a palavra pode ser cortada, dispensada, tornada impotente, tanto nessa hora de dor quanto para explicar as formas de uma nuvem, os medos oriundos da mata, as causas do assassinato que jogou o pai no oco do mundo.

O sertão roseano está lá do mesmo jeitinho, retratado de forma crua, sem a “estetização da miséria”, outro modismo na ordem do dia por aqui. Sua ligação com a “modernidade” que nos assola vai além da nota de R$ 10,00 que aparece entre os guardados do irmão morto, e que serão enterrados no mesmo chão que o abrigou.

Como destaque do equilíbrio entre palavra, ação e imagem, ainda podemos acrescentar a cena em que o personagem mirim se vê às voltas com um médico da cidade (leia-se Guimarães-personagem) que lhe aponta defeitos na visão e depois lhe oferece seu par de óculos. O esperado seria alguma pirotecnia mostrando o antes e o depois nas imagens. Mas a mudança de perspectiva é apenas interior: “as pedras fica mais grande”. É um ritual de passagem que abre para a possibilidade de cruzar fronteiras, sair daquele lugar onde trabalho infantil é condição natural e a escola é algo que passa ao largo das necessidades. Nesse mundo, contudo, abrem-se brechas para pequenas alegrias: quadrinhas, trava-línguas, brinquedos de madeira, alçapões, ouvir causos dos vaqueiros, rir diante do desempenho do papagaio, observar a ação do milho de pipoca. É pouco, mas substancial, pois assim são reveladas ilhas de delicadeza e solidariedade entre desgarrados, ambulantes de Deus, desvalidos, testemunhas do que se convencionou chamar de “Brasil profundo”.

Depois de ver a entrega da cachorra Rebeca, o papagaio que escapa, o tio aconselhado a sair de casa para evitar uma desgraça, o irmão morto, o pai foragido, o menino Thiago está calejado no exercício do ir-se embora. É hora de largar a saia da mãe para saber “por que as coisas acontecem, então?”. É preciso tocar para outros gerais, decifrar outros mistérios. Encontrar um lugar onde a dor do homem lateje mais devagar. Perto do mar, talvez.


Jeová Santana (1961) nasceu em Maruim (SE). É autor dos livros de contos Dentro da casca (1993), A ossatura (2002) e Inventário de ranhuras (2006). É mestre em Teoria Literária pela Unicamp. Atualmente é doutorando no Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: História, Política e Sociedade da PUC/SP. E-mail: jeopoesi@bol.com.br

Fonte: Cronópios

Mutum - Trailer

Longa Brasileiro Arrisca-se no Abstrato

Saiu lá no Overmundo uma postagem sobre o longa-metragem Kynemas, de Pedro Paulo Rocha, certamente um filme bem complicado.

kynemas, filmes in fluxos
por rsaito

"conectar o cinema às
geografias urbanas e cyberais."

Nesse seu longa de estréia o cineasta e artista multimídia, Pedro Paulo Rocha, nos propõe 80 minutos de imersão sensorial em um kaos plástico e sonoro.Quem espera ver um filme realista, onde personagens vivem estórias, será surpreendido por um fluxo ininterrupto de imagens e sons, com muita cor e música em ritmo alucinante. A câmera mergulha em um oceano de abstrações e cores na paisagem urbana.

Filme concebido para ser uma obra eletrônica in progress; kynemas é um manifesto plástico sonoro sobre as formas nascentes de cinema na contemporaneidade; Um filme ininterrupto para constantes novas versões, jogos de armar na internet, com teclados interativos, redes de artistas, memória eletrônica, ciclo de exibição e laboratórios de tvs digitais.

"Estamos diante da emergência de novos cinemas expandidos,
de cinemas para hipertelas, suportes virtuais, interativos, móveis".

"O cinema está na pele da subjetividade contemporânea, cada vez mais miscigenado na cotidianeidade do vídeo, da música e do computador. Sub way, kynemasvideos palimpsestos".

Na fronteira entre artes plásticas, cinema e arte eletrônica, kynemas sugere ao espectador uma experiência única com a percepção. O artista define o filme como "uma provocação plástica para olhos e ouvidos livres; Um invento de pura vibração, de cor e luz, mas também de sangue e fúria. É uma sinfonia urbana, anarcocromática, que nasce dos ritmos das imagens e da cidade."

"O filme é um gesto poético que não exclui a violência da imaginação contra o absurdo e o horror que essa sociedade produz.
Nesse sentido, as cores e as músicas do filme sangram".

Kynemas foi realizado eletronicamente na montagem, mistura samplers, re-criações plásticas e derivas de filmagens pela cidade.

O filme experimenta "as passagens sensorias", de uma linguagem a outra. dilata o espaço sensorial da cidade, mistura música, artes plásticas, fotografia, vídeo, arquitetura, mares de cores, ruídos e ataques sonoros, rajadas de imagens e músicas, fragmentos de memória. Dziga Vertov, Stan Breakhage, Godard, Ozualdo Candeias, Glauber Rocha entrelaçados através de frames e paisagens, melodias, canções, derivas, música eletroacústica, vozes, poesia sonora, fotogramas, catástrofe e lixo urbano.

Máquinas ritmicas de montagem, percussão com gotas. pianos.chuvas. Sons de ferros. filmagens ao acaso. Imagens filmadas na moviola. Pixel. Tv. Cinema. Textura de imagens. Vitrais criados com telas sobrepostas. Fusões sobre fusões. Contraponto e assincronia entre imagem e som.

"O processo de criação foi marcado por um movimento de desconstrução da estrutura fechada do filme ".

"A imagem como música eletrônica , elementos ritmicos que podem se recombinar; e a música como imagem manipulável, montagem, massas plásticas que se justapõem e se chocam; samplers, assemblagens, readmade-visual-sonoro."

O processo de montagem foi levado as últimas conseqüências.
O filme passou a ser uma memória live do processo de criação; De uma partícula sonora, a um frame, a um micro-filme, todo o material pode compor a galáxia de possiblidades e se retraduzir dentro da obra in fluxo. O processo seria ininterrupto, "infinito ao cubo" , através de uma rede de conexões de memórias abertas e compartilhadas.

Kynemas foge as definições e preconceitos do que seria ou não seria cinema.
Esse filme poderia ser chamado de "pintura eletrônica ou grafismo urbano; não importa se é artes plasticas, cinema ou uma experiência no espaço, instalação, imersão; o que importa é sugerir um contra fluxo nômade em que uma linguagem pode sugerir outra, misturando o que está separado. Tudo pode ser cinema; kynemas é imagem e som em movimento. É música. Arquitetura. É limite, experiência. Cinema, quasi-cinema.

"O nome kynemas foi escolhido para marcar novas formas de cinemas nascentes nessa contemporaneidade tecnológica. Um gesto plástico para amplificar as possibilidades de se fazer cinema na atualidade".

Ser um cineasta na era eletrônica é ser "um experimentador de linguagens, um artista cross-over que atravessa todos os meios sem fronteiras. O cinema se transformou em arte híbrida cada vez mais , que sempre incorpora outra."

O filme começa em um oceano de cores e pixel, pontuados por vozes de diferentes personagens e canções. Uma personagem imaginária que diz " vê como sonorizo isso", "o que os olhos não podem ver", " kaos", "kynemas" , " vc é a personagem sonora do filme" " uma personagem imaginária" " som", "imaginamos cidades".
“ em cada imagem existe também um invísivel a ser decifrado."

" Imagens quase-abstratas , com cores fortes, tempo sincopado, simulando uma atmosfera cósmica; imagens que praticamente transbordam a tela e explodem no espaço."

O filme exige esse esforço visual para vermos além da abstração;
" …e esse invisível é a própria cidade que vai surgindo; ganha contorno meio as abstrações aparentes um visível no mar urbano".

Viajamos em um roadmovie por São Paulo, invandindo universos mais documentais, filmando encontros inesperados com pessoas anônimas, moradores de rua; falas improvisadas para diálogos absurdos; cenas noturnas, duplos de imagens, vozes , " ver, vvvvvvvv, des, ver, rrr, desver, vermelho no vermelho", " um espelho reflete estilhaços da cidade", frames entrelaçados de frames em uma hiperficção sensorial…"

" disparo" " rajadas de sons e imagens"
"no corte que pisca um frame de instante."
kynemas
"ataques de imagens, rajadas de sons,"
"disparo" " num salto sem instante"

Fonte: Overmundo


Kynemas

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Novo Filme de Eduardo Coutinho

'Jogo de Cena' é homenagem às mulheres
por Márcio Garoni


Um anúncio no jornal, convidando mulheres a contarem suas histórias de vida para a gravação de um filme; atrizes convidadas para interpretar essas declarações reais; Eduardo Coutinho na direção. O resultado é Jogo de Cena, documentário sensível sobre a vida. Que imita a arte, que imita a vida.

O filme prova que uma idéia simples pode se transformar em obra-prima. Nada é muito fora do comum. Coutinho extrai das personagens fortes declarações, como sempre faz. As entrevistadas são sinceras, não fazem pose para a câmera, como se espera. As atrizes - entre elas Andréa Beltrão, Marília Pêra e Fernanda Torres - dão uma aula de atuação, o que também não é novidade. Tudo isso filmado no palco de um teatro, com apenas uma câmera e duas cadeiras.

As atuações são tão verossímeis que, excluindo as atrizes conhecidas, é difícil perceber se é uma atriz ou uma pessoa "real" que está falando. O diretor brinca com isso na edição, às vezes mostrando a atriz antes da entrevistada.

Jogo de Cena confirma a tese de que a realidade é tão cativante quanto a ficção. Não será exagero derramar algumas lágrimas durante o filme. É uma sincera homenagem às mulheres entrevistadas, às atrizes, à mulher brasileira.

Outra brincadeira de Eduardo Coutinho: no filme aparecem 12 mulheres, seis atrizes e seis entrevistadas. No entanto, são cinco as mulheres que têm uma correspondente atuando. As duas que sobram contam cada uma sua história. É uma grande surpresa quando, no final de um depoimento carregado de emoção, a mulher vem à câmera e diz: "Foi assim que ela disse".

Fonte: Overmundo


Jogo de Cena - Trailer

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Inovação Chilena: Milhares de versões do mesmo filme

Foto: Homero Monsalves, El Mercurio
Willy Semler, protagonista no projeto experimental ''Papá''.


"Papá", o filme chileno com três milhões de versões

SANTIAGO - Doze horas de projeção contínua marcaram a estréia de "Papá o 36 mil juicios de un mismo suceso", o novo projeto do Coletivo Sure, que oferece uma versão diferente da sua história cada vez que o filme volta a começar.


Leo Medel e Juan Pablo Fernández, produtor e diretor do filme, conversaram com o jornal El Mercurio Online para explicar a forma que se desenvolveu sua produção, ainda que brinquem e recordem que a tarefa de apresentar seu trabalho os tenha obrigado muitas vezes a usar sua habilidade de desenhistas para que os entendam.

Entretanto, sentados na sala de imprensa do Festival de Cine de Viña del Mar, se concentram e voltam a colocar em palavras a estrutura que da vida à "Papá", que deixa de lado os tradicionais rolos de película e usa como suporte o DVD.

O Coletivo filmou três versões distintas da sua história e as dividiu em uma série de partes, em seguida um engenheiro criou um software que está incorporado ao DVD e constrói cada fragmento do relato de forma aleatória usando alguma das três possibilidades que possui. Isto evita que o roteiro perca a ordem que tem e, por exemplo, o fim da história se veja ao princípio ou ao contrário.

"Guardando as proporções, sinto que a forma (na qual está feita "Papá") é super parecida à “Os Detetives Selvagens”, de Rorbeto Bolaño (escritor chileno comparado a autores pertencentes à Geração Beat), onde a história vai se contanto desde a perspectiva de cada personagem", comenta Medel.

Em Vinã del Mar, por exemplo, nas doze horas que durou a projeção contínua de "Papá", puderam-se ver oito versões, "porém, o programa, pode gerar mais de três milhões de histórias diferentes", acrescenta Medel.

Fernández recorda uma anedota que lhes sucedeu com uma senhora na Ciudad Jardín, que assistiu o filme quatro vezes, com pausa para o almoço incluída, e comparou "Papá" com uma novela, porque a razão de ficar tantas horas frente à tela foi na tentativa de investigar o que ocorria com alguns personagens que apareciam brevemente e logo desapareciam.

Seus realizadores recordam que a idéia de realizar um trabalho como este nasceu quando chegaram os primeiros DVDs ao Chile, que permitiam ver diversos finais de um filme, por exemplo, e eles sentiram que a tecnologia digital podia dar-lhes novas possibilidades de fazer coisas.


A história central

Apesar das múltiplas versões que se poderiam assistir, o roteiro desta produção está baseada em mostrar a história de um professor universitário (Willy Semler), que mantém uma relação secreta com uma aluna (Mariela Mignot), até ser descoberto por sua filha Rocío (Macarena Losada).

Semler é o mais veterano do grupo realizador de "Papá", inclusive interpreta duas canções da trilha sonora, porém confia no projeto e acredita que os integrantes do Coletivo Sure darão o que falar.

A idéia do Sure é estrear "Papá" no ano que vem, no entanto, já estão trabalhando em seu próximo projeto, que será dirigido por Fernández e já tem título: "Tchau".


Fonte: Emol

Papa o 36 mil juicios de un mismo suceso - Trailer 1


Papa o 36 mil juicios de un mismo suceso - Trailer 2

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Tropa de Elite Gera Questionamentos

Herói torturador
por Ana Paula Sousa

Tropa de Elite vira fenômeno cultural e faz pensar sobre as razões que levam o público a aplaudir o policial violento em nossa sociedade



Kid Tattoo, tatuador da comunidade Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, fez uma ponta em Tropa de Elite. Ficou tão famoso que foi convidado a abrir outra loja num condomínio de classe média. “O ibope do DVD foi muito alto. Não tem mais quem não me conheça. Fui agora mesmo pegar a chave da loja nova”, diz, cheio de orgulho, o jovem que, no filme, tatua a “faca na caveira” num policial do Batalhão de Operações Especiais da PM (Bope).

O apresentador Luciano Huck, depois de ter o Rolex roubado, clamou: “Chamem o capitão Nascimento”. Referia-se ao policial encarnado pelo ator Wagner Moura, que tortura e atira sem dó. No camelódromo da rua Uruguaiana, no centro do Rio, o Bope virou hit. Além da famosa pirataria do filme, há bonequinho com cara de capitão Nascimento.

No último fim de semana, num baile à fantasia em Jacarepaguá, fardas a imitar os homens de preto brasileiros fizeram sucesso. Tropa de Elite estreou nos cinemas de São Paulo e do Rio de Janeiro nesta sexta-feira 5. Mas já foi visto, replicado, adorado e atacado por gente de todo o Brasil.

Estima-se que 1 milhão de DVDs piratas tenham sido vendidos. As cópias das cópias são incalculáveis. No Rio, é difícil cruzar com alguém que não tenha visto o filme. Seja no bar Belmonte, no Flamengo, seja em Cidade de Deus, onde a cópia foi exibida na feira, na barbearia, nas casas todas, o filme acirra os ânimos.

Em São Paulo, no Aeroporto de Congonhas, um taxista viu, nas mãos da repórter, a capa do pirateado Tropa de Elite 3, um documentário superviolento e primário, feito pela própria polícia. Não resistiu. “Você me empresta pra eu gravar?

Prometo devolver. Te deixo meu telefone, meu RG, tudo.” No Nordeste, também há Tropa de Elite para todo lado. No alto sertão paraibano, na cidade de Sousa, há três semanas, um morador se espantou: “Nossa, você é jornalista e nãoviu o filme? Tem de ver”.

Que Brasil é este que aderiu de maneira radical ao longa-metragem dirigido por José Padilha? Que filme é este que perdeu o controle da própria feitura, sendo pirateado ainda incompleto? Que sociedade é esta que viu no capitão Nascimento um herói salvador?

Leia toda a reportagem em CartaCapital Edição 465


Fonte: CartaCapital


Tropa de Elite - Trailer

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Cidade dos Homens - O Filme

A saga final de Acerola e Laranjinha
por Alessandro Giannini


As aventuras dos adolescentes vão parar na tela do cinema para contar a "história da comunidade"

Não confunda: Cidade dos Homens não deriva de Cidade de Deus. Na verdade, não tem nada a ver uma coisa com a outra, embora os produtores de ambos, a O2 Filmes, de Fernando Meirelles e seus sócios, sejam os mesmos. A série de televisão, que foi ao ar na Rede Globo em quatro temporadas de 2002 a 2005 e agora encerra a carreira numa versão para o cinema dirigida por Paulo Morelli (Viva Voz), tem origem no curta-metragem Palace II (2001), de Meirelles. Esse pequeno filme, protagonizado por dois amigos, Acerola (Douglas Silva) e Laranjinha (Darlan Cunha), e ambientado na favela carioca de Cidade de Deus, foi concebido como laboratório para testar opções estéticas que o diretor do ainda inédito Blindness usaria na adaptação do livro autobiográfico de Paulo Lins.

“Cidade de Deus é um filme sobre traficantes”, repete quase como um mantra Morelli, que recebeu do amigo e sócio Meirelles a incumbência de encerrar a saga de Acerola e Laranjinha. “Cidade dos Homens é sobre a comunidade.” Essa diferença é fundamental, inclusive, para entender por que Palace II foi recebido a paus e pedras pelos críticos e pela própria comunidade cinematográfica quando exibido no Festival de Brasília de 2001. A câmera solta, a fotografia lavada e o óleo no corpo dos meninos (para acentuar a sensação de calor) foram apontadas pelos detratores como técnicas publicitárias. Fato é que essa estética foi aprimorada em Cidade de Deus e adaptada para a televisão quando Cidade dos Homens e seus dois jovens protagonistas foram convertidos em uma série. E funcionou muito bem em ambos os casos, diga-se.

No cinema, Cidade dos Homens tem como temas a maturidade, a paternidade e o trabalho. Acerola e Laranjinha completam 18 anos com um mês de diferença entre um e outro. O primeiro, que ainda na série casou e se tornou pai por acidente, tem de assumir o papel paterno em tempo integral. O outro, incomodado com a inscrição “paternidade desconhecida” na certidão de nascimento, resolve investigar quem é o verdadeiro pai. Ambos estão empregados e em busca de estabilidade, mas são pegos no contrapé pela instabilidade da guerra do tráfico. É a história de vidas vividas numa corda bamba, como as de Douglas Silva e Darlan Cunha, que cresceram interpretando personagens cujas histórias eles conhecem intimamente.

Fonte:
CartaCapital

Leia mais na edição 459 da revista CartaCapital que está nas bancas.

Para ver o trailer de Cidade dos Homens, visite o saite oficial do filme.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

O Engajado Milton Santos

Com política e com afeto
por Ana Paula Sousa


É impressionante a quantidade de documentários brasileiros que estréiam nesta sexta-feira 10 e na próxima semana. Entre os títulos há de tudo

A capoeira é tema de Mestre Bimba – A Capoeira Iluminada, dirigido por Luiz Fernando Goulart. As profissões à beira da extinção são tratadas por Lucas Bambozzi, Cao Guimarães e Beto Magalhães em Fim do Sem Fim, que chega ao circuito sete anos depois de pronto. O sociólogo Betinho, o cartunista Henfil e o violonista Chico Mário ressurgem em Três Irmãos de Sangue, assinado por Ângela Patrícia Reiniger.

Entre as estréias, as duas que mais fôlego parecem ter para enfrentar a sala escura são o sensível Person e o ultrapolitizado Milton Santos ou: O mundo global visto do lado de cá, de Silvio Tendler, vencedor do júri popular no Festival de Brasília, em 2006.

A personalidade e a carreira do cineasta Luiz Sergio Person (1936-1976), de São Paulo S/A e O Caso dos Irmãos Naves, são remontadas por sua filha, Marina Person. Ela passou oito anos debruçada sobre o trabalho, que nasceu como curta-metragem, virou um média-metragem sofrível e ganhou boa forma como longa. Obviamente afetivo, o filme é, também, uma homenagem ao cinema.

Milton Santos, por outro lado, é puro panfleto, no dizer do próprio diretor. O pensamento do geógrafo, morto em 2001, que se considerava um intelectual outsider, alinhava uma série de imagens, do Brasil e do mundo, que reiteram os danos causados pela globalização. Descolonizar-se, para Santos, era aprender a enxergar o mundo pelos próprios olhos. “O mundo é o que se vê de onde se está”, dizia. “Mas insistimos em ser europeus. (...) Achamos mais chique pensar como pensam os americanos. E aí temos uma enorme dificuldade de entender o mundo.”

Tendler, que visitara a vida de outros inquietos baianos, como Glauber Rocha e Castro Alves, e filmara a política em Os Anos JK (1980) e Jango (1984), construiu o documentário como uma colagem de cenas que, seja nas salas com ar condicionado de Davos, seja em gravuras que ilustram a colonização e a escravidão, reiteram, de modo didático, o que disse Milton Santos. “Qual o problema de fazer um panfleto? É uma boa forma de se comunicar. Está faltando verve às pessoas”, diz o diretor. Documentarista experimentado, ele não vê problemas na coincidência de estréias. “Assim está ótimo. O problema é quando 90% das salas estão ocupadas por três blockbusters americanos.”

Todos sabem, porém, que o público dos documentários é, em geral, minúsculo. Não à toa, o filho de Chico Mário, Marcos, fez circular um e-mail em que diz: “Queria pedir uma ajuda a você, entrar na corrente e divulgar o filme dos Três Irmãos de Sangue. Temos que levar as pessoas nas duas primeiras semanas, se não ele sai de cartaz. E parte da renda é para ajudar o combate à AIDS.”

Fonte: CartaCapital

Mestre Bimba, A Capoeira Iluminada - Trailer 2




O Fim do Sem Fim - Trailer (arquivo .mov)

3 Irmãos de Sangue - Trailer


Person - Trailer



Milton Santos ou: O mundo global visto do lado de cá - Trailer

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

HOMENAGEM A BERGMAN E ANTONIONI

OutroCine presta uma singela homenagem a Ingmar Bergman e Michelangelo Antonioni, dois gênios do cinema falecidos no dia 30 de julho.

Bergman: Morangos Silvestres (Smultronstallet-1957)

O trecho abaixo mostra a parada do professor Borg em uma casa que lhe remete a saudosos momentos da infância.





Bergman: O Sétimo Selo (Det sjunde inseglet-1956)


Abaixo, a clássica cena do encontro do guerreiro das Cruzadas com a Morte.




Bergman: Gritos e Sussurros (Viskningar och rop-1972)

O trailer desta monumental obra do mestre sueco.




Antonioni: A Noite (La notte-1961)

A cena abaixo mostra a náusea conjugal burguesa, vivido por um dos melhores casais do cinema: Jeanne Moreau e Marcelo Mastroianni.





Antonioni: Blow Up (1966)

Partida de tênis sem bola, uma das mais famosas metáforas da história cinematográfica.




Antonioni: Profissão: Repórter (The Passenger-1975)

Trailer: Jack Nicholson em uma de suas ótimas atuações, como um homem que troca sua identidade por uma suposta liberdade.




*Quem tiver interesse em conhecer mais a obra dos dois cineasta, os filmes apresentados aqui e muitos outros estão disponíveis em DVD.

Novo Filme Argentino em Cartaz

AS COISAS SIMPLES DA VIDA
por Ana Paula Sousa


O diretor Daniel Burman construiu, no emergente cinema argentino destes anos 2000, um painel de imagens muito suas. O humor judeu e os afetos e desafetos que qualquer família conhece são o esteio de Esperando o Messias (2000) e O Abraço Partido (2004), ficções de pegada autobiográfica que o tornaram conhecido. Seu alter ego, sempre chamado Ariel, mas com sobrenomes variáveis, é o jovem meio atrapalhado, meio romântico, que tenta se adequar às coisas da vida adulta.

Vivido pelo ator Daniel Hendler, Ariel retorna à tela, em Leis de Família (em cartaz a partir da sexta-feira 3), mais engraçado que antes. É inevitável pensar no personagem Antoine Doinel criado por François Truffaut. E há também um quê de Woody Allen nas atitudes desajeitadas, entre a piada e a melancolia.

Sem o maneirismo da câmera que não parava quieta em Abraço Partido, Burman assume, no novo filme, uma simplicidade estética que lhe cai bem. Quem nos conduz pela narrativa é Ariel Perlman, promotor público, professor de direito e filho de um advogado que, no meio da história, se casa com uma instrutora de pilates e torna-se pai. As cenas do casal com o menino de 2 anos (filho de Burman) são especialmente simpáticas. O cineasta não quer falar dos conflitos familiares, e sim das pequenas alegrias do cotidiano, dos laços afetivos que nos fazem pertencer ao mundo.


Fonte: CartaCapital

As Leis de Família (Derecho de Familia) - Trailer