sexta-feira, 7 de setembro de 2007

O Tarantino Sul-Coreano

Ode à vingança
por Carlos Augusto Brandão


Lady Vingança (Chinjeolhan Geumjassi) 2005, de Chan Wook, é o terceiro capítulo da trilogia que o diretor sul-coreano realizou sobre a vingança, iniciada em 2002 com Simpathy for Mr. Vengeance e seguida de Old Boy em 2004.

São filmes para quem gosta de trabalhos que exploram novas possibilidades no cinema. Como nos filmes de Tarantino, Chan Wook inova no gênero de ação, criando novas fórmulas, estéticas e narrativas. A exemplo dos seus filmes anteriores, num misto de violência e humor negro, imagens perturbadoras surgem a cada momento.

É uma trilogia impactante e diferente. O segundo filme da série, embora um pouco menos violento do que o primeiro – que tinha longas sessões de tortura, mutilações e muito sangue – foi também muito forte. Apenas em algumas seqüências as cenas foram sugeridas, mostrando os fatos geradores e depois suas conseqüências. Nos dois, no entanto, a crueza foi explícita, como na cena antológica em que o personagem come vivo um polvo inteiro. Este terceiro, que fecha a série, não foge a essa característica da trilogia. Lady Vingança é a história de Geum-ja (Lee Young-ae), uma mulher aparentemente dócil, mas que na realidade é – ou se tornou – sádica e cruel.

Vítima de uma injustiça, ela passa 13 anos na prisão, acusada de um crime que não cometeu. Enquanto está aprisionada, prepara cuidadosamente um plano de vingança, conquistando seus companheiros de cadeia com sua bondade, a ponto de ganhar o apelido de “bondosa Geum-Ja”.
Após ser libertada, com a ajuda de seus antigos amigos de prisão, ela sai em busca de Mr. Baek, o verdadeiro responsável por sua desgraça, um professor de inglês que rapta, tortura e mata criancinhas.

Tomada por uma raiva feroz, ela persegue obsessivamente o seu desejo de vingança a qualquer preço. Numa trajetória pontilhada de humor negro e violência, persegue sem tréguas o autor do crime pelo qual tinha sido condenada.

Chan-wook vai construindo um mundo de trevas com elementos que ajudam a compor a sombria atmosfera do filme: luz escurecida, fotografia cuidada, música estranha, clima seco e frio.

Mesmo assim, não há glorificação da violência nem julgamentos morais. Como sempre, o diretor deixa essa parte a cargo da mente do espectador, mas a intensidade na busca incessante de conseguir a vingança fala por si.

Chan-wook é um dos diretores mais inovadores do cinema surgidos ultimamente. Ele não poupa seus personagens nem está preocupado em que eles despertem empatia ou identificação com o espectador.

Para ele, face ao desenvolvimento da civilização e ao acesso atual à educação, as pessoas podem até esconder sua raiva, mas não significa que as emoções vão embora. Pelo contrário, a raiva pode crescer, e é normalmente o que acontece. E ele sabe que a vingança é um dos sentimentos que alimentam alguns dos aspectos mais obscuros da psique humana.

O diretor ressalva, no entanto, que a vingança nem sempre satisfaz ao vingador, ao contrário: pode causar mais dor e sofrimento, mas ele não consegue deixar de buscá-la.

Uma seqüência propõe uma espécie de redenção, quando é oferecido para Geum-ja um prato de tofu branco. Tradicionalmente, ele é oferecido para recém libertos na Coréia para marcar simbolicamente o início de uma vida nova.

Chan-Wook é muito popular no seu País, onde um de seus filmes Joint Security Area, de 2000 – sobre amizade entre soldados dos dois lados da fronteira nas Coréias do Norte e do Sul – teve uma da maiores bilheterias do cinema sul-coreano.

Mas sua trilogia sobre a vingança, que expõe o cinema perturbador do diretor, tem impressionado o público mundo afora e recebido aclamação da crítica.

Para Chan-Wook o sucesso que filmes da Coréia do Sul têm feito ultimamente no ocidente se deve ao fato de serem trabalhos que retratam aspectos da rígida sociedade sul-coreana ou expõem temas arrojados e desafiantes.

“Existe uma energia nos filmes coreanos que normalmente não é encontrada em filmes de outros países”, afirma o diretor, que estreou no cinema em 1992 com A Lua é o Sonho do Sol.

Fonte: Mnemocine

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