domingo, 8 de julho de 2007

O diretor Decio Matos Jr. fala sobre seu documentário Fabricando Tom Zé

FABRICANDO TOM ZÉ SEXTA-FEIRA 13 NOS CINEMAS!!
por Decio Matos Jr.

Antes de filmar Fabricando Tom Zé , co-dirigi outro documentário chamado Bossa no Exílio, sobre músicos brasileiros que tiveram que sair do Brasil para serem reconhecidos ou poderem viver de música. Durante o início da produção do Bossa, fui a um show de Tom Zé e simplesmente fiquei pasmo com o que vi no palco, sua apresentação era diferente de tudo que eu já tinha visto, o show era performático e havia uma enorme interação com a platéia. Depois conheci Tom Zé e gravei uma entrevista com ele. Ele roubou a cena do Bossa no Exílio e foi difícil condensar em tão pouco tempo tudo que ele havia dito em sua entrevista. Foi então que me ocorreu a idéia de fazer um filme sobre Tom Zé. Falei com ele e Neusa, sua esposa e empresária, e eles aceitaram a empreitada.

Nesta época, eu ainda morava em Nova York e estava de mudança para São Paulo. Ao chegar aqui, assisti O Invasor de Beto Brant e fiquei apaixonado pela fotografia do filme e a forma como o filme havia sido realizado. Chegando em SP, procurei o Toca Seabra e o convidei para fotografar o filme. A primeira coisa que ele me perguntou era quem estava produzindo e claro que gaguejei na resposta pois ainda não tinha um produtor. Ele, na hora, ligou para a Eliane Ferreira e organizou um jantar para a mesma noite. Senti uma enorme empatia pela Eliane e ela comprou a idéia do filme, e assim começamos a desenvolver o projeto. No início, foi bem guerrilha, ia com uma câmera e uma lapela atrás de Tom Zé no estúdio, em sua casa, onde fosse. Quando havia alguma viagem, ele tentava nos enfiar junto com sua banda. Eliane e eu dividíamos as passagem, hotéis, etc... A maioria deste material acabou servindo de pesquisa, mas uma ou outra coisa acabou entrando no filme, como a seqüência de Irará, por exemplo.

Com o tempo, nos juntamos aos produtores Omar Jundi e Matias Mariani. O projeto foi aprovado em lei e partimos para a captação. Foi quase impossível, pois captar para um documentário pode ser mais difícil do que para uma ficção , já que quase sempre os roteiros não espelham o produto final este. Alem disso, tratava-se de meu primeiro longa-metragem, e a maioria de nós éramos novos na indústria cinematográfica. Até abril de 2005, havíamos captado R$200 mil e um belo dia, Neusa me ligou informando de uma turnê que aconteceria em julho daquele ano. Eu pirei com aquela notícia, enfiei na minha cabeça que aquela era a oportunidade certa e que teríamos que filma-la. O único problema é que o que havíamos captado não somava 50% de nosso orçamento e portanto, não poderíamos usar esta verba para a produção. Neste momento, fizemos a maior loucura que um cineasta pode fazer, investimos nosso próprio dinheiro sem saber se algum dia o recuperaríamos e começamos a produzir a filmagem da turnê.

Como os festivais europeus erguem sua estruturas em datas muito próximas aos eventos, era impossível visitar as locações, por isso foi muito importante a pré-produção que precedeu a viagem, pois ela definitivamente diminuiu a possibilidade de imprevistos que poderiam ocorrer na turnê. Na equipe estavam o diretor de fotografia Lula Carvalho, que acabou substituindo o Toca no projeto, Fabrício Tadeu operando a segunda câmera, Aloysio Compasso fazendo o som direto, Nathaniel LeClery como produtor, Diego Guimarães gravando os shows e um grande amigo da época da faculdade, Michele Orlando como nosso produtor europeu. Encontramos Tom Zé em Roma e filmamos seu primeiro show lá. A turnê foi sensacional, tiveram altos e baixos na viagem que passou pela Itália, Suíça e França. Tom Zé nos deu acesso livre a tudo, concedeu uma entrevista maravilhosa em seu quarto de hotel em Montreux, fez os europeus cantarem em português e tudo isto entrou no filme.

A montagem começou dois meses depois, havia mais de 250 horas de material. Nas primeiras duas semanas assisti a todo o material com a Letícia Giffoni, montadora do documentário. Após assistir a tudo, conversamos e chegamos a conclusão que a turnê era o esqueleto narrativo perfeito e a história de sua vida e outras entrevistas poderiam ser inseridas para complementar a narrativa. Logo vimos que estávamos no caminho certo. Após quase seis meses, lá estava nosso corte.

Apesar de chegar a um corte final, ainda não tínhamos captado o dinheiro necessário para liberação do filme pela Agência Nacional do Cinema (Ancine). Foi então que os produtores e eu chegamos a conclusão de que este documentário pronto seria mais valioso para nós. Fizemos diversos acordos para realizar a pós-produção e iniciamos todo o processo de finalização.

Por volta de julho de 2006 inscrevemos o filme no festival do Rio e confesso que não tinha nenhuma expectativa. Uma tarde, recebi a ligação de Marcelo Mendes, Diretor de programação do Grupo Estação de Cinema. Como representante do comitê de seleção do festival, ele assistiu ao filme, mas embora não tivesse certeza de que o documentário havia sido selecionado para a mostra, ele demonstrou-se interessado em distribuir o filme pela distribuidora Filmes do Estação. Foi puro êxtase! O documentário acabou sendo selecionado tanto para o festival do Rio quando para a 30a Mostra de São Paulo. Em ambos os festivais, ele ganhou o prêmio do público como melhor documentário. Esta foi a maior satisfação que eu poderia ter como diretor; saber que meu primeiro longa funcionou com o público é uma ótima sensação. Em São Paulo, ainda ganhamos um prêmio de R$200 mil da Petrobras para distribuição! Com estes prêmios ainda conseguimos captar mais R$400 mil no final de 2006, confirmando que o filme pronto valia mais para nós.

Fabricando Tom Zé foi meu primeiro projeto de longa-metragem para cinema. Na verdade estar escrevendo sobre esta experiência é uma enorme satisfação, pois há quase cinco anos , quando eu tive a idéia de fazer o documentário eu jamais poderia imaginar que ele acabaria nas telas de cinema do pais. A data de estréia está marcada para sexta-feira, 13 de julho. Para muitos isto pode parecer loucura, mas para nós não poderia ser outra após tudo que passamos para realizar este documentário. No site do filme, vocês podem encontrar o trailer e o teaser do filme. Espero que de tudo certo como já deu até o momento, pois para mim, daqui pra frente, o que vier é lucro! Desliguem seus celulares e apreciem sem moderação.

http://www.fabricandotomze.com.br/

Por último, aproveito para convidar todo mundo que estiver no Rio de Janeiro dia 10/07 as 16:00 para uma sessão do documentário no Centro Cultural dos Correios atrás do CCBB no centro para uma sessão seguida de debate com a equipe do filme e o próprio Tom Zé.

Fonte: OverMundo

Assista o trailer de Fabricando Tom Zé

Fabricando Tom Zé - Trailer

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